Moradores do bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, apontam a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), maior complexo siderúrgico da América Latina, como responsável por uma série de atividades que agridem o Meio Ambiente e afetam a saúde. Em atividade há apenas nove meses na Zona Oeste do Rio de Janeiro, a empresa libera diversos resíduos no ar.
Desde o início das obras, a siderúrgica é investigada por operar de maneira incorreta. A área de nove quilômetros quadrados, onde está localizada, fica próxima a um manguezal, berçário natural de vida marinha, e a região de atividade pesqueira na Baía de Sepetiba. O Ministério Público e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) avaliam também o lançamento de resíduos provenientes do processo industrial na atmosfera.
A comunidade vizinha à CSA reclama do pó metálico que invade as casas e deixa inúmeras pessoas doentes. Especialistas afirmam que resíduos industriais podem ser absorvidos pela respiração, pela pele e até por absorção gastrointestinal, já que alimentos advindos da pesca e do ecossistema do manguezal estão igualmente prejudicados. O professor associado do Laboratório de Radioisótopos do Instituto de Biofísica da UFRJ, João Paulo Machado, explica que não é fácil fazer um prognóstico de quais resíduos tóxicos estão trazendo complicações à saúde local.
Segundo ele, são inúmeras substâncias e compostos liberados no processo de aquecimento do ferro e do carvão, tais como hidrocarbonetos cancerígenos e dioxinas, um dos grupos de substâncias mais tóxicas liberadas. Os dejetos químicos podem causar desde irritações cutâneas até infarto do miocárdio. “Por se tratar de sintomas inespecíficos registrados pela comunidade, como alergias, inflamações variadas e problemas respiratórios, seria preciso análise detalhada de materiais coletados e a biomonitoração da população para se obter uma resposta mais precisa sobre quais elementos atingem a população.”
Para ele, sempre que há indústria, há poluição. É necessário que haja controle e fiscalização. “As leis do Brasil são boas e funcionam muito bem no papel, mas quando se trata de aplicabilidade, ela é baixa e pouco eficaz”, afirma João Paulo Machado. O professor ainda salienta que com tecnologia adequada é possível evitar o problema, mas isso requer investimentos e elevados custos. As empresas, porém, tendem a evitar ou eliminar esses gastos.
Questionado sobre métodos preventivos contra doenças relacionadas à exposição ao ar contaminado, como por exemplo o uso de máscaras cirúrgicas, João Paulo responde que “não há como afirmar o grau de eficácia de máscaras cirúrgicas pois se houver partículas menores que 2,5 PM (material particulado, em inglês) a barreira se torna ineficaz”. A solução está sempre na fábrica, segundo ele, ou seja, ela tem de investir em equipamentos de abatimento de emissão para que não haja escape dos resíduos. “Quanto à prevenção de doenças, cabe aos grupos comunitários sair às ruas em prol da defesa da própria saúde”, diz o professor.