A menos de um mês para deixar o cargo de reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Aloisio Teixeira falou sobre o papel e a configuração geral da universidade no Brasil. A palestra ocorreu na última sexta-feira (13/05), no auditório PCM do Instituto de Biofísica e fez parte do Ciclo de Conferência Versalius, promovido pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Morfológicas do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB/UFRJ).
Sem fazer um balanço de seu mandato, nem falar sobre a gestão do candidato que apoiou e venceu as últimas eleições a reitor - Carlos Levi-, o professor Aloisio foi buscar, no contexto da Revolução Industrial, o significado de universidade para contrapor ao atual momento de questionamentos a cerca do papel dessa instituição, não só no Brasil, mas em todo o mundo. Depois falou das peculiaridades do assunto no cenário nacional.
Do século XVIII até o XIX, segundo ele, o papel das universidades era produzir, armazenar e difundir conhecimento, além de formar uma elite dirigente. Com o surgimento das multinacionais, gerar tecnologia (conhecimento) passou a ser sinônimo de competitividade. Ao contrário do saber produzido na universidade, que é público, esse criado em multinacionais passou a ser exclusivo, um bem privado e patenteado.
Além disso, com a universalização do ensino superior, a universidade passou a ter um direito de cidadania e, com isso, o papel de filtro que a universidade exercia também se esvaiu. Dessa forma, hoje, no contexto mundial, o papel da universidade é também um tema cercado de reflexões e discussões, visto que a universidade já não detém o monopólio das duas funções que a ela pertenciam em sua formação.
O professor explicou, no Brasil, que além da universidade ter perdido a função de formação de elite, ela sofre com fatores históricos: a fragmentação da instituição e a falta de investimentos para inovação tecnológica. Sem focar no caso da UFRJ, mas utilizando-a como um exemplo, Teixeira afirma que a universidade no Brasil nunca teve um projeto. Como na formação da UFRJ, a universidade não é uma unidade, mas, sim, a união de escolas e faculdades autônomas.
Outro problema apontado por Aloisio é falta de investimentos em inovação tecnológica nas universidades brasileiras. Ao contrário do que aconteceu nos países desenvolvidos, em que as universidades tiveram papel fundamental no crescimento nacional e na produção de desenvolvimento, durante as décadas de 50, 60 e 70, período de avanço exponencial do Brasil, esse crescimento industrial e econômico foi realizado com tecnologia e capital estrangeiros.
Dessa forma, o reitor afirma que, desde o início, as universidades brasileiras já nasceram com algumas de suas funções abortadas. “O nosso crescimento não resultou de uma articulação orgânica da universidade com os centros de tecnologia. Não favoreceu o desenvolvimento de tecnologia no Brasil, nem a resolução de problemas nacionais. A sua criação está ligada aos interesses e necessidades da elite. Não é a toa que as primeiras escolas foram Medicina, Engenharia e Direito, profissões que os filhos da elite buscavam”.
Para solucionar esses e outros problemas, o reitor apontou a necessidade de a universidade possuir autonomia frente às instituições governamentais como o ponto de partida. Aliado a isso, ele sugeriu uma reorganização sistêmica, um projeto de complementariedade das universidades federais e uma profunda renovação das estruturas acadêmicas e administrativas. Com relação à qualidade das universidades, Aloisio acredita que a revitalização do tripé ensino, pesquisa e extensão, investimentos para construir um corpo docente em regime total dedicação e a promoção de avaliações constantes para renovação e reconstrução das atividades internas são ações necessárias.