Imagine-se, por um momento, incapaz de se comunicar com todos à sua volta. Assim é a vida dos deficientes auditivos. “Invisíveis”, já que nada os distingue dos ouvintes, os surdos se misturam na multidão e passam despercebidos da grande maioria das pessoas, ao contrário dos deficientes motores e visuais, e não chamam a atenção necessária para a gravidade do problema.
Como extensão da dificuldade de se comunicar, surge a dificuldade de obter informações. Como os surdos se informam? Através do jornal, livros, TV? Como tornar a mídia mais acessível aos deficientes auditivos? A mesa redonda “A mídia é surda aos surdos?”, que ocorre no Auditório da Biblioteca Central do Centro de Ciências da Saúde no dia 18 de maio, tenta encontrar alternativas e soluções para essas e outras perguntas relacionadas.
Vivian Rumjanek, professora do IBqM (Instituto de Bioquímica Médica-UFRJ) e organizadora do evento, revela que a maioria dos surdos, ao contrário do que se pensa, não compreende bem a linguagem escrita. “A grande maioria é de analfabetos funcionais, já que, por não ouvir, não associam os símbolos escritos aos estímulos auditivos”, afirma a professora. Exceção feita apenas aos surdos que não nasceram com a deficiência e, portanto, já receberam estímulos sonoros anteriormente.
Ensinar ciência, mas em que linguagem?
Desde 2005, Vivian coordena um curso de biociências para alunos surdos que, assim, têm a oportunidade de responder questionamentos através de experimentos científicos. Assim, aprendem na prática sobre diversos conceitos que seriam impossíveis de se transmitir em Libras (Linguagem Brasileira de Sinais). “Ciência não faz parte da comunidade surda, então eles não têm sinais para termos científicos e técnicos”, ressalta Vivian, que continua “os intérpretes não tinham um equivalente para determinadas palavras. Então eles tinham que explicar o conceito daquilo a cada vez que falávamos.”
Depois de um tempo, os próprios alunos criaram sinais para que se comunicassem entre si durante os experimentos. “Anotamos todos os sinais que eles usavam e vimos se eram facilmente aceitos e compreensíveis visualmente. Então começamos a fazer um enorme glossário de termos científicos e tecnológicos criados pelos próprios surdos”, diz a professora.
Barreira de informação
“Para minha surpresa, nos casos de surdos que têm família ouvinte, a maior parte da família não sabe Libras”, diz Vivian Rumjanek. Assim, o surdo vive isolado, inclusive em família, sem conseguir obter um volume satisfatório de informação. A professora exemplifica: “quem poderia imaginar que tem alguém de 20 anos que não sabe o que é uma bomba atômica? Mostramos uma foto do cogumelo atômico para alguns surdos e eles me perguntaram ‘O que são essas nuvens?’”, diz.
Assim surgiu o interesse de saber como os deficientes auditivos se informam. A professora revela que tinha uma certeza antes da pesquisa: acreditava que o principal meio utilizado pelos surdos era a televisão. Estava errada: “acredite ou não, o jornal é a principal fonte de informação para eles”, diz. Explicando como leem, mesmo sem compreender totalmente a linguagem escrita, a professora conta: “se tiver uma figura, eles garimpam no parágrafo as palavras que sabem e criam um sentido para aquilo.”
Mídia e acessibilidade: o evento
A partir do interesse de saber como os surdos se informam, surgiu a preocupação com a acessibilidade da mídia. Quais mecanismos a mídia tem para que a informação chegue de forma clara ao surdo? Para debater o tema, foram convidados profissionais da área de mídia – impressa, TV, internet e rádio – além de um representante da comunidade surda.
O evento, que tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), será realizado no dia 18 de maio, às 9h, no Auditório da Biblioteca Central do Centro de Ciências da Saúde, que fica na Av. Carlos Chagas Filho, 373, Cidade Universitária.