O cinema costuma apresentar alguns personagens com sintomas de transtornos psicológicos para a plateia. Recentemente, psiquiatras e psicólogos passaram a utilizar histórias contadas na tela grande para auxiliar o tratamento de alguns pacientes. Trata-se da cinematerapia.
Para o psiquiatra Elie Cheniaux, do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, esse não seria um tipo específico de psicoterapia, seria na verdade um recurso eventualmente utilizado no tratamento psiquiátrico. “O paciente veria o filme e discutiria nas sessões suas reações emocionais da mesma forma que são analisados os sonhos, esse um recurso clássico da psicanálise. Tanto os filmes como os sonhos representam realidades virtuais, mas impregnadas pelas emoções do paciente”, esclarece Elie.
O objetivo, tanto na interpretação dos sonhos como na discussão das reações emocionais do paciente assistindo a um filme, seria dar um significado às vivências afetivas do paciente, favorecendo maior autocompreensão.
Angela Donato Oliva
Professora do Instituto de Psicologia (IP) da UFRJ
"Assistir a filmes pode ser um dos instrumentos utilizados em terapia. Ao ver um filme, um paciente pode se identificar com algum personagem da estória; pode, em alguns casos, fazer o paciente refletir sobre seu problema de uma outra maneira, que ele não havia pensado, a partir do que fez ou sentiu o personagem; pode ajudar o paciente a ver que seu drama acontece com outras pessoas, mesmo que seja na ficção, mas alguém imaginou que aquilo fosse possível.
Às vezes, o que ele ouve nos diálogos consegue traduzir as emoções que sente e o terapeuta pode compreendê-lo melhor. Às vezes, um filme engraçado ou um romance podem alegrar a tarde de uma pessoa que está desanimada. Livros têm função semelhante. Ver um filme, apenas isso, não é em si mesmo uma sessão de terapia.
Há também a possibilidade de o paciente sofrer, pois o final feliz que viu na tela não tem como se realizar em sua vida. Mas um filme não constitui a terapia. Entendo que ver filmes possa funcionar como um instrumento em um processo terapêutico, assim como a leitura de livros."
Paulo Vaz
Mestre em Filosofia e Doutor em Comunicação, professor da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ
“A loucura é bastante retratada na ficção por se tratar de um drama humano. É o fascínio pelo comportamento humano, a tentativa de tentar descrevê-lo. Para isso, é mais fácil de se perceber os diferentes comportamentos em uma situação limite, que é a insanidade.
Normalmente, quando você vê ficção, você se deixa influenciar por ela. A literatura tradicional tem alguns casos de confusão da ficção com a realidade como, por exemplo, Dom Quixote, que ficou louco por ler muitos livros.
Por que você proíbe filmes violentos para crianças ou culpa videogames violentos por um comportamento mais agressivo? Justamente por essa influência. No caso da cinematerapia, a ficção nos apresenta outra forma de influência, buscando a reabilitação daquele espectador.”