• Edição 219
  • 10 de junho de 2010

Argumento

Por que, durante a Copa do Mundo, todos se transformam em torcedores?

Bruno Motta


A edição 2010 da Copa do Mundo de Futebol tem seus primeiros jogos amanhã, dia 11/06. O evento, desta vez realizado na África do Sul, mobiliza todo o país em torno da seleção brasileira, inclusive quem não acompanha futebol. A mobilização traz algumas consequências, como expedientes de empresas alterados e reuniões de vizinhos, ou até de desconhecidos, em lugares públicos para ver os jogos do Brasil e comemorar possíveis gols.

O professor Roberto Araújo Bello, do Instituto de Psicologia (IP-UFRJ), acredita que a mudança de comportamento provocada pela Copa é explicada pela identificação das características do futebol brasileiro com os atributos que constituem sua auto-imagem. “O brasileiro tem, em sua auto-imagem, alguns valores como a malícia e a esperteza, que o prejudicam em um país com tantas mazelas, como a corrupção generalizada, mas o futebol as legitima”, afirma o professor. “Lá dentro, são características válidas”, completa.

Bello ressalta a popularização do futebol no Brasil. “Começou elitizado e foi sendo tomado por personagens que ganhavam notoriedade vindos de classes mais humildes”, argumenta o professor. “Isto criou uma afinidade do futebol com a sociedade brasileira. É um convite ao sonho”, afirma.

Roberto Bello classifica o esporte como um combate ritualizado. “Não se trata meramente de um jogo de futebol, passa a ser um ritual social”, pontua. “E como todo rito, cria mitos. Por exemplo, Garrincha é mítico, maior que o personagem. A forma como a população se apropria do mito é maior que sua história”, declara.

A auto-imagem do brasileiro sofreu uma desvalorização após a final da Copa de 1950, quando o Brasil perdeu, em casa, para o Uruguai. “A final de 1950 foi o maior luto nacional. O próprio brasileiro ficou se achando covarde e que não prestava para nada”, explica Bello.

Porém, em 1958, a seleção brasileira conquista seu primeiro título mundial e tem, assim, “a ressurreição de sua auto-imagem”, como define o professor.

Posteriormente, em 1970, outra característica foi legitimada com mais um título. “A década de 70 foi do Brasil gigante, do sucesso econômico”, determina Roberto Bello.