É melhor pensar duas vezes antes de tomar os chazinhos e xaropes populares que prometem fazer milagres. Nesta última reportagem sobre o tratamento de doenças a partir de métodos caseiros, tema deste mês, o Por uma boa causa enfoca a “sabedoria popular” para tratar doenças do fígado.
Devido ao perigo da automedicação e desconhecimento dos efeitos colaterais, recentemente a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu proibir o comércio e a distribuição de nove substâncias utilizadas para fazer medicamentos deste tipo. A Umburana Composta, Flor da Índia e Flor do Sertão estão na lista da Anvisa, e ambas prometem tratar problemas hepáticos como infecção hepática, cólica de fígado e hepatite, respectivamente.
Substâncias como essas podem parecer inofensivas a princípio, mas é daí que surgem as complicações. As lesões no fígado provocadas por essas ervas podem surgir tanto no primeiro consumo ou ao longo do uso. “Existe toda uma suscetibilidade individual de reação adversa a várias substâncias”, afirma Cristiane Alves, hepatologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF-UFRJ) e professora da Faculdade de Medicina (FM) da UFRJ. Como em alguns casos a constatação das complicações demora, as pessoas aumentam as doses, agravando o quadro clínico.
Outro problema do uso desses chás e xaropes é que eles também podem causar as doenças que “popularmente” espera-se que eles curem. “Essas ervas podem ser lesivas ao fígado causando desde uma hepatite leve até um quadro grave com hepatite fulminante”, explica a hepatologista. A Flor do Sertão, utilizada para fazer xarope contra a hepatite, demonstra a falta de conhecimento em relação à patologia.
“O mais importante é fazer o diagnóstico correto para depois se definir o tratamento”, ressalta a doutora Cristiane. Atitudes como a da Anvisa e o esclarecimento dos hepatologistas, além de alertarem sobre os perigos dessas substâncias, também buscam evitar a necessidade cirúrgica. Hepatites mais graves, por exemplo, são assintomáticas e podem ainda progredir para a cirrose. “Pacientes com doença hepática avançada devem ser tratados com transplante de fígado”, esclarece a doutora sobre fígados muito comprometidos.
Ação conjunta
Outras substâncias como a Crotalaria, Chá Verde, Kava-Kava, Chaparral, Erva Cavalhinha, Sacaca, Sene, Heliotropium, Confrei, Valeriana, ervas chinesas, Plantago Ovata e Cascara Sagrada completam a lista de ervas que também podem interagir com outros medicamentos regulares, alterar o metabolismo do paciente e modificar sua ação. Segundo a Sociedade Brasileira de Hepatologia, não deveria ser recomendado o uso de ervas para tratamento de doenças hepáticas, pois não há estudos que demonstrem sua segurança e eficácia.