As atividades industriais e a queima de combustíveis, assim como a própria natureza, são responsáveis pela emissão de uma substância tóxica que pode causar inúmeros problemas ao homem e animais: o mercúrio. Para tentar amenizar o problema, pesquisadores do Programa de Engenharia Química (PEQ) da Coppe-UFRJ, em parceria com a Petrobras, desenvolveram um sistema de remoção do mercúrio encontrado no petróleo e no gás natural capaz de diminuir a incidência do elemento na atmosfera.
“Nosso projeto começou com um trabalho para retirada de mercúrio da água, que posteriormente foi testado com o petróleo. O foco atual, porém, é a eliminação da substância no gás natural, onde também está presente”, explica a pesquisadora Neuman Solange de Resende, que coordena o projeto ao lado da professora Vera Salim. O processamento de combustíveis livres de mercúrio em termelétricas auxiliaria não só a redução dos níveis da substância no meio ambiente, como também protegeria os trabalhadores das usinas que estão expostos aos combustíveis.
“O mercúrio pode causar problemas neurológicos nos seres humanos devido à capacidade de acumulação. Muitas doenças da candidata a presidência Marina Silva, por exemplo, foram causadas pelo contato com o mercúrio, na época em que ela trabalhava como seringueira”, explica Neuman Resende. Ela relata ainda outros casos de contato da população com a substância: “Há poucos dias, em São Paulo, foi encontrado mercúrio em latas de lixo e algumas crianças tiveram contato com ele. Certamente, isso já causou e vai causar danos em inúmeras pessoas.”
Segundo a especialista, a maior quantidade de emissões de mercúrio é realizada por agentes naturais como os vulcões, já que uma grande quantidade da substância se encontra sob o solo terrestre. Porém, como o Brasil não possui agentes vulcânicos, a maior parte das emissões no país é causada pelo homem, o que se dá principalmente através de garimpos e exploração de minas de carvão.
Um mapeamento dos níveis de mercúrio atmosféricos realizado pelo Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Unep, em inglês) estima que em 2020 os níveis mundiais de mercúrio atingiriam 1850 toneladas, um aumento significativo quando comparado ao índice de 2005, de 1480 toneladas. Esse crescimento, segundo pesquisadores, atingiria também regiões até então pouco afetadas como alguns países da América do Sul, entre eles o Brasil, que hoje é o sétimo país com maior índice da substância.
Uma vez na atmosfera, o mercúrio, por sua volatilidade em temperatura ambiente, circula entre todos os meios e ambientes a que é exposto, afetando terra, água e ar. A substância pode estar presente também em várias formas, como mercúrio metálico, inorgânico e orgânico, sendo este último o mais letal.
O projeto apresentado pelo PEQ possui um método seguro para a eliminação da substância, manipulando-a em sua forma inorgânica e garantindo que não retorne à atmosfera. “O processo de retirada é realizado através de um processo chamado adsorção química, no qual utilizamos um material químico à base de fosfato que absorve e retém o mercúrio em sua forma inorgânica, mantendo-o inofensivo”, conclui Neuman Resende.