A série Por uma boa causa, que aborda os impactos da prática esportiva na saúde física e mental do atleta, teve como tema inicial o desgaste a que são submetidos os atletas de alto rendimento. Nesta segunda edição, o Olhar Vital entrevistou especialistas de Medicina e Educação Física sobre os cuidados que se deve ter para iniciar uma prática esportiva, principalmente para quem está com sobrepeso.
De acordo com o cardiologista Edison Migowski, chefe da Unidade Coronariana do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho(HUCFF/UFRJ), reconhecidamente, o exercício físico apresenta resultados bem documentados em vários órgãos. Reduz a ocorrência de osteoporose, principalmente em mulheres pós-menopausa; diminui o peso, com reflexos na redução de gorduras e glicose sanguínea; melhora a circulação sanguínea, diminuindo o aparecimento de varizes; além de reduzir a pressão arterial, diminuindo sensivelmente a ocorrência de eventos cardiovasculares, como infarto e derrame cerebral.
Sendo assim, é comum que, após um check-up médico, muitos indivíduos sedentários se vejam obrigados a iniciar a prática regular de exercícios. “Em geral, não existe a obrigatoriedade de uma avaliação médica irrestrita previamente ao início da prática de exercícios físicos. Se um indivíduo assintomático, sem história familiar de doença cardiovascular ou problema de saúde reconhecido, seja pulmonar, cardiológica ou ortopédica, estaria autorizado a iniciar exercícios moderados sem necessidade de liberação médica”, avalia Migowski.
A avaliação estaria reservada a pacientes com histórico ou sintomas relacionados a tais doenças, como dor no peito, falta de ar, dor ou inchaço articular. Todavia, “homens com mais de 45 anos e mulheres com mais de 55 anos, pela maior probabilidade de doença cardiovascular, devem passar por uma avaliação mais criteriosa”, afirma o cardiologista.
A escolha da atividade aeróbica
A alternativa comumente mais encontrada para os iniciantes da prática esportiva é o exercício aeróbico, fundamental para o gasto e redistribuição da gordura corporal, propiciado pela caminhada ou corrida, na esteira ou pelas ruas. Um hábito saudável que a cada dia mais faz parte da rotina da cidade maravilhosa e de suas locações permeadas de belezas naturais, comprovada pela quantidade de atletas no entorno do Maracanã, da Lagoa Rodrigo de Freitas e da orla carioca e o aumento de grupos de corrida.
Mas para quem apresenta sobrepeso, a corrida pode não ser o melhor exercício aeróbico. O alto impacto é danoso principalmente às articulações e pode causar uma série de problemas, como a fascite plantar. Dor causada por uma inflamação no ponto de origem do fáscia plantar (tecido que cobre a musculatura da planta do pé e que liga o osso do calcanhar à base dos dedos do pé).
Segundo o ortopedista Marcos Britto, professor da Faculdade de Medicina (FM/UFRJ), a doença é causada por microtraumatismo repetido na fáscia plantar. O sobrepeso aliado a caminhadas em superfícies duras, sem o calçado adequado, contribui para a ocorrência dos traumatismos nessa estrutura, que é pouco elástica. O médico explica que “o principal sintoma é a dor na parte inferior do pé, principalmente quando a pessoa acorda e pisa no chão, passando da posição sem carga para a posição com carga. Pode haver dor ao longo do dia, mas muitas vezes esse incômodo melhora à medida que a pessoa caminha”.
Portanto, o conselho do estudioso de treinamento de esportes de longa duração Alexandre Palma, professor da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD/UFRJ), é que o indivíduo fora de forma busque exercícios aeróbicos de menor impacto, pelo menos em um primeiro momento até adquirir maior condicionamento, como os aquáticos. Natação, um esporte que trabalha grande parte do corpo e desenvolve a capacidade respiratória, polo, nado sincronizado até corrida aquática, uma alternativa simples e comum em processos de reabilitação física. Ou mesmo exercícios fora d’água em aparelhos que não exigiam tanto das articulações, como a bicicleta.
“Para o emagrecimento, o importante é que o gasto calórico seja maior do que o consumo. Este gasto refere-se ao total de energia despendida ao longo do dia com todas as atividades (trabalho, exercício aeróbico, musculação e outros). Assim, o exercício aeróbico pode ter maior efeito sobre a redução da gordura corporal, mas qualquer atividade física poderia ser benéfica para redução da obesidade. É preciso, contudo, considerar as características individuais de cada sujeito, como os problemas com as articulações; com a intensidade prescrita”, conclui Palma.