• Edição 253
  • 31 de março de 2011

Notícias da Semana

Edimilson Migowiski assume a direção do Instituto de Pediatria da UFRJ

Geralda Alves

A posse do novo diretor do Instituto de Pediatria e Puericultura Matargão Gesteira (IPPMG/UFRJ) na manhã da última quarta-feira (30/03) foi cercada de muita emoção. Antes de dar início aos trabalhos foi feito um minuto de silêncio em memória do ex-vice-presidente da República José de Alencar, falecido na última terça-feira (29/03). A seguir, o reitor Aloisio Teixeira assinou o termo de posse em conjunto com Edimilson Migowiski, diretor do IPPMG e seu vice-diretor, Bruno Leite Moreira.

Marcelo Land passou o cargo para Edimilson fazendo um balanço de sua gestão, destacando os processos de reforma e reconstrução da unidade. A abertura da UTI e a renovação do setor de emergência estão entre eles. Na parte de ensino, regularizou todos os cursos que tinham pendências e criou a vaga de residentes multiprofissionais, além de assegurar a qualificação profissional dos quadros administrativos. Destacou, ainda, a epidemia que enfrentou. “Internamos mais de 300 crianças com dengue e perdemos apenas uma. Enfrentamos também a pandemia da gripe suína.”

Para encerrar, Marcelo disse que está deixando a gestão sem dívida e desejou um bom governo à equipe que está entrando citando Maquiavél: “Uma gestão tem que ter sorte e virtude”.

Edimilson iniciou seu discurso dizendo ser uma pessoa muito informal e, muito comovido, falou que estar à frente desta Casa é um prazer enorme. “Desejo tornar o IPPMG conhecido, mas primeiro precisamos conhecer as pessoas que trabalham aqui dentro. O nosso discurso de campanha foi e é humanização e funcionalismo”. O novo diretor disse estar preocupado com as condições em que as pessoas trabalham. “Estamos adoecendo, ficando hipertensos, diabéticos. Então temos que ter um olhar mais profundo para essas pessoas”. Encerrando o discurso, Migowiski disse se sentir orgulhoso de ser professor da instituição.

O enfermeiro Bruno Leite Moreira, vice-diretor, declarou sua grande satisfação em dividir a direção do IPPMG com o Edimilson Migowiski   a quem chamou carinhosamente de irmão. Ele lembrou de quando trabalharam juntos na Vigilância Sanitária do Estado do Rio de Janeiro e no intenso trabalho de moralização administrativa do órgão e de combate a venda irregular de remédios.

Aloisio Teixeira encerrou a cerimônia fazendo um breve relato das ações da reitoria nos oito anos de sua gestão frente da UFRJ. O reitor acrescentou ser este um momento de festa e de tristeza (se referindo ao incêndio na Capela São Pedro de Alcântara). “Tenho certeza que toda a universidade estará empenhada na reconstrução da Capela. “Convoco a sociedade a colaborar, faço isso porque essa universidade é constituída de pessoas que se recusam a conhecer a palavra derrota.” Para finalizar, voltou-se para Edimilson e profetizou: “Tenho certeza de que sua gestão será exitosa”.



A difícil arte de divulgar a ciência

Sidney Coutinho

 

O Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (Iesc/UFRJ) promoveu na última quarta-feira (30/3) o seminário “A importância dos periódicos nacionais: por que e para quem fazer uma revista científica?”, que lotou as dependências do auditório do instituto. Especialistas na área de publicação científica discorreram sobre as várias etapas e dificuldades para publicação de artigos por parte dos pesquisadores.

O professor Benedito Barraviera, presidente da Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC - Unesp, Botucatu, SP), abordou na apresentação as dificuldades que se apresentam diante dos pesquisadores ao realizar a divulgação científica a começar pela própria realização do estudo. Segundo ele, entraves burocráticos emperram a aquisição de insumos para pesquisas, além de o tempo para exercer a atividade precisar ser dividido com outras tarefas. “A carga de responsabilidade é grande para o professor, que precisa dar aulas e fazer pesquisa”, disse.

De acordo com Barraviera, após a conclusão da pesquisa ainda surge um dilema diante do profissional que é a escolha entre as revistas nacionais ou internacionais para publicar a descoberta ou estudo. O idioma, a abrangência local ou mundial e o quanto os resultados obtidos podem contribuir para o avanço da ciência se somam entre os impasses enfrentados pelo pesquisador. “A ciência brasileira, sem dúvida alguma está avançando. Porém, à custa de muito sangue, suor e lágrimas. O rendimento dos pesquisadores está aquém do desejado, mas será que a pessoa consegue fazer ensino, pesquisa, extensão e gestão? Será que consegue fazer tudo isso?”, concluiu.

O assessor de informação e comunicação em ciência da Fundação de Apoio à Universidade Federal de São Paulo (FapUnifesp) Abel Laerte Packer, que é coordenador operacional do projeto SciELO, apresentou-se depois revelando as principais etapas até uma publicação científica alcançar e retribuir prestígio aos pesquisadores. “É preciso melhorar a capacidade editorial brasileira, que precisa ser internacionalizada, tanto na produção editorial como na publicação. Se a gente continuar produzindo só é bom para autoestima, mas não é bom para nossa inserção mundial”, afirmou.

O professor Kenneth Camargo Jr., editor da revista Physis – IMS/Uerj, detalhou como funciona a revista científica e também levantou as dificuldades das revistas brasileiras se manterem ao longo dos anos. Segundo ele, a falta de financiamento é um problema para quem quer se manter ético e não se rende aos interesses das transnacionais.

A professora Lúcia Abelha, editora dos Cadernos de Saúde Coletiva, também fez um relato histórico da publicação, que, em 1991, teve a produção interrompida para retomar cinco anos mais tarde. Hoje, os planos  são mais ousados. Está previsto para abril o lançamento do site específico dos Cadernos de Saúde Coletiva, que facilitará a publicação de artigos, além dos planos de ingressar no SciELO (Scientific Electronic Library Online), que é uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros.

Por um olhar humanitário da Medicina

Renata lima

O profissional de saúde, com toda sua objetividade e procura pelo bem-estar de seu paciente foi tema da palestra “Psicoterapia no hospital geral - O que o médico pode fazer?”. Ministrando a palestra, o Professor Emérito da Faculdade de Medicina da UFRJ, Eustachio Portella Nunes, fez uma análise sobre a importância dos valores humanos no tratamento do paciente.

A relação médico-paciente é fundamental na medicina. No atendimento, quando a relação entre eles é difícil, os médicos tendem a achar que a culpa é exclusiva do paciente: “ele é uma pessoa difícil”, diria um médico. Quando, na verdade, a relação médico-paciente depende, não só de quem é atendido, mas de quem está atendendo.

“O paciente é uma pessoa sofrida, sobretudo aquele que frequenta hospitais públicos. Ele tem inúmeras necessidades e carências”, diz o professor referindo-se às condições externas que tornam o paciente mais inflexível. A doença é, muitas vezes, uma forma de escape do cotidiano massificante. Ficar bem de saúde novamente representa o regresso à vida difícil, ou seja, o doente pode preferir adoecer a se tratar completamente.

Para diminuir a barreira entre o binômio médico-paciente é preciso a mudança de atitude do médico. Este deve ver o paciente não como um objeto de estudo ou de cura, mas como uma pessoa: “O médico deve ceder espaço para o paciente falar espontaneamente”, diz Eustachio, explicando que o doente gosta de ser notado e receber atenção.

O palestrante afirma ter a receita para ser mais perceptivo quanto ao próximo e para o médico ter uma relação mais humana com seu paciente: “Leiam Machado de Assis. Ele percebeu todas as nuances do comportamento humano”. Ele ainda brinca: “Machado de Assis transforma seu romance em uma sessão de psicanálise trinta anos antes de Freud”.


A palestra, que aconteceu quarta-feira (30/3), no Anfiteatro do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), passou a lição de casa: conhecer o ser humano não é só uma tarefa da psicologia, como também da medicina, que precisa, de certa forma, treinar seus profissionais para exercerem um olhar mais caloroso sobre o paciente.



Aprendizagem de adultos na área da saúde

André Ribeiro

O ensino, desde tempos renascentistas, vem sendo aprimorado a cada nova descoberta ou invenção. De Newton e Descartes a Pasteur e Curie, muitos aspectos do  mundo e da vida  mudaram. Mas será que os métodos de ensino acompanharam essa evolução?

Para responder perguntas como esta, ocorreu no auditório Alice Rosa, no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), a palesta: “Aprendizagem de adultos na área de Saúde: Uma nova visão”, apresentado pelo Professor Emérito da Universidade do Novo México Stewart Mennin. Radicado há quase sete anos no Brasil, Mennin já contribui há mais de 30 anos com a inovação na educação de profissionais de saúde.

Um dos principais pontos abordados pelo professor é a mecanização do estudo, que, segundo ele, é um erro clássico que consiste em tratar o ensino como uma causalidade linear, ou seja, uma ação sempre leva a um mesmo resultado. Na área da saúde, as coisas nem sempre são assim, já que podem ocorrer resultados inesperados, bons ou ruins. Mennin diz que essa mecanização ocorre porque não adaptamos o sistema de ensino ao longo dos anos, e continuamos presos aos paradigmas renascentistas.

O professor apresenta um ponto de vista diferente sobre a educação. Pregando o aprendizado sustentável, ou seja, a habilidade de adaptar o ensino continuamente, ele diz que vivemos num mundo fluido, em constante movimento. Outra faceta abordada pelo mestre é a ordem de ensino, que põe teoria antes de prática. Ele diz que as experiências devem ser priorizadas, já que são o melhor método de aprendizado e ensinam não somente para o mundo acadêmico, mas para a vida.

Segundo Stewart Mennin, a solução para o problema do ensino é tratá-lo como algo complexo. Segundo ele, o ensino é visto como uma receita, que se segue à risca e espera-se que tenha certo resultado. Porém Stewart compara o ensino a um filho, algo complexo e incerto, que mesmo seguindo-se à risca os métodos tradicionais as coisas podem não dar certo. Assim como um filho pode se tornar uma pessoa ruim, um estudante pode, e isso ocorre com certa frequência, se tornar um profissional ruim.

A complexificação do sistema de ensino e a valorização do indivíduo são, segundo o professor, as principais metas de um bom sistema de ensino. O que é preciso entender é que vivemos num mundo em constante adaptação, no qual cada indivíduo tem seu lugar numa autoorganização sem liderança que dita as mudanças. “Não se formam trabalhadores na área da saúde, mas, sim, pessoas”, conclui.