O tratamento contra doenças infecciosas é um esforço frequente da medicina, visto o perigo que tais doenças representam à população. Os avanços da medicina proporcionaram a criação de diversos medicamentos anti-infecciosos e sua abundante distribuição. Porém, um estudo divulgado pelo Centro Para o Desenvolvimento Global, uma ONG americana situada em Washington, revela que os mesmos medicamentos que auxiliam na cura dessas doenças podem influenciar também na crescente resistência dos micro-organismos que provocam as doenças infecciosas, o que acarretaria em inúmeras mortes.
Para a infectologista Simone Nouer, professora da Faculdade de Medicina da UFRJ, sempre que um antimicrobiano é usado, os micróbios entram em contato com eles e podem desenvolver resistência. “Para minimizar esse efeito, é importante usar os antimicrobianos apenas quando indicados, pois nessa situação existe um beneficio maior do que o evento da resistência que é a cura de uma infecção”, explica.
Simone relata que o principal problema relacionado à resistência dos organismos aos medicamentos é seu uso não continuo, ou seja, como algumas doenças infecciosas são crônicas, necessitam de tratamento prolongado, permitindo ocorrerem interrupções no uso do medicamento. A exposição intermitente pode levar à resistência do microorganismo.
“Deve-se também reduzir o uso de antibióticos em indicações não adequadas, como utilização em doses abaixo do correto, tempo de uso maior do que o necessário, uso de antibióticos de atuação ampla quando outro de atuação menos ampla também seria adequado e uso de medicamentos com formações químicas semelhantes aos dos antimicrobianos em outras áreas, como agricultura ou pecuária.”
Embora os casos de resistência sejam, em sua maioria, isolados, algumas doenças possuem tratamentos difíceis, graças à resistência dos micróbios aos medicamentos existentes. “Otites, pneumonia e infecção urinária são exemplos de doenças cujos antibióticos vêm sofrendo alteração nos últimos anos por causa da resistência”, expõe a médica.
“A resistência microbiana está ligada à qualidade de assistência de saúde. Diagnóstico correto, tratamento assegurado, diminuição da transmissão são, de uma maneira geral, linhas importantes para a prevenção. Não adianta apenas desenvolvermos medicações novas sem controle da transmissão das doenças, pois isso funciona como uma bola de neve”, conclui Simone.