O I Seminário de Pesquisa e Vivência sobre Corpo e VII Fórum de Debates sobre Paternidade que ocorre no mês de agosto na Maternidade-Escola da UFRJ tem como abordagem principal o corpo do pai cuidador. O evento cria um espaço de reflexão sobre o trabalho com o corpo vivencial da clientela e busca entender como as pessoas sentem-se sobre seus próprios corpos.
Na sociedade capitalista, o fato de se esperar que o homem contribua financeiramente para o sustento da família e não se encarregue de atividades cuidadoras formou-se ao longo da história do nosso povo. No período da escravidão, os homens foram encarregados de atividades braçais, enquanto as mulheres ficavam responsáveis por cuidados domésticos e de seus filhos. Posteriormente, a busca por oportunidades de trabalhos fez com que homens de diversas partes do Brasil migrassem para os grandes centros urbanos e deixassem suas companheiras.
Transformar esta realidade é a meta de profissionais como a psicóloga Maria Luiza Mello de Carvalho, do Laboratório Interinstitucional de Pesquisa e Vivência sobre Corpo, da Graduação em Terapia Ocupacional, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela explica que questões como o pensamento do homem como contribuinte financeiro e o preconceito em relação à sexualidade são grandes responsáveis por alguns homens não exercerem as mesmas atividades que as mulheres. “A sociedade desvaloriza atividades como o cuidado dos filhos, de creches e da saúde, e espera que os homens façam dinheiro. Se um pai não for trabalhar para cuidar dos filhos, o chefe dele não o compreenderá, e se um homem mostra interesse por atividades cuidadoras, sua sexualidade pode vir a ser questionada”, afirma Maria Luiza.
A proposta de aumento da licença-paternidade para 15 dias, a Política Nacional de Saúde do Homem e as orientações que os profissionais da área estão recebendo vêm diminuindo o preconceito, desinteresse e falta de informação. Segundo a professora, pequenas atitudes contribuem para o aumento da presença masculina nas atividades cuidadoras. “Convidar o pai para estar junto da mãe durante a ultrassonografia, alertá-lo que é direito da gestante ter um companheiro ao lado no momento do parto e até mesmo a reforma de salas de esperas e a criação de banheiros masculinos nas maternidades são atitudes que nós, profissionais, devemos instituir para incentivar os homens”, alerta a psicóloga.
Devido à utilização desses métodos, a paternidade é a área que mais vem apresentando transformações e, como consequência, está modificando a masculinidade. Em sua tese de doutorado “Cuidado, sociedade e gênero”, Maria Luiza observou 16 homens de perfis socioeconômicos e histórias de vida diferentes durante o cuidado de seus filhos sem a presença das mães. O resultado foi surpreendente e mostrou que o homem é capaz de exercer atividades tidas como femininas. Ao longo do estudo, eles alegaram estar aprendendo com os filhos, mais felizes e estimulados a cuidar. “Eles são totalmente capazes de cuidar. O cuidado é uma iniciativa afetiva e não é obrigatoriedade de um ou outro gênero. O amor demonstrado pelos filhos aumenta a autoestima dos pais e melhora bastante a saúde. Além disso, eles estão mais atentos para cuidar de si, dos filhos e de companheiras”, diz a especialista.
Os profissionais da área da saúde devem se preparar para melhor atender ao novo perfil de pacientes e espaços para debates e reflexões como o do próximo seminário precisam cada vez mais ser discutidos. O cuidado com os filhos, que vem gerando a atenção masculina com a sua saúde, também pede uma reorganização do tempo de trabalho, a fim de que assim haja um apoio social para o cuidado com a saúde.
O evento
O I Seminário de Pesquisa e Vivência sobre Corpo e VII Fórum de Debates sobre Paternidade, que ocorre no dia 26 de agosto, promove a temática da paternidade no cuidado com os filhos e é iniciativa da graduação em Terapia Ocupacional da UFRJ.