RIO DE JANEIRO - A presença do homem no mercado de trabalho é fundamental para o sustento das suas famílias. Porém, muitos acabam sendo afastados de suas atividades por problemas de saúde decorrentes do próprio emprego. Este foi um dos temas debatidos nessa terça-feira (24) no 48° Congresso Científico do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), que ocorre até a próxima sexta-feira com o tema “Saúde do homem”.
Entre as diversas doenças relacionadas ao trabalho, as do sistema respiratório são responsáveis por meses de afastamento dos funcionários. Segundo a pneumologista e tisiologista, Claudia Costa, o trabalho pode ser uma causa direta da doença – como na silicose que acomete funcionários de cerâmicas e metalúrgica –; pode ser um fator contributivo – um exemplo é a doença coronariana –; ou um agravador da doença já estabelecida – a asma, por exemplo, provocada pela inalação de gases, vapores ou fumos, presentes em ambiente de trabalho.
Claudia também falou sobre o perigo dos agrotóxicos, que podem provocar irritação do trato respiratório, edema pulmonar e pneumonia química. E, por último, lembrou da tuberculose, uma doença que, segundo ela, é comum atingir profissionais da área médica, principalmente nos departamentos de pneumologia e de doenças infecciosas e parasitárias e nos laboratórios de microbiologia.
Demartoses ocupacionais
As afecções de pele também são comuns em diversas profissões. Segundo Maria das Graças Mota Melo, médica dermatologista da Fundação Oswaldo Cruz e da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, encontram-se, na literatura, registros de índices variando entre 20% a 70% em relação às outras doenças relacionadas ao trabalho.
Ela explicou que, no Brasil, é difícil avaliar o número de trabalhadores afetados. Entre os motivos para isso estão a falta de serviços especializados em dermatoses profissionais; a falta de preparo dos profissionais da área de saúde para a suspeita do nexo entre a lesão cutânea e a atividade profissional; a desinformação dos trabalhadores sobre os riscos decorrentes das atividades desenvolvidas; e a subnotificação de doenças ocupacionais.
“O percentual de lesões de pele situa-se em torno de 50%, contribuindo para um grande número de demissões devido ao absenteísmo e baixa produtividade, antes mesmo do estabelecimento do diagnóstico de doença ocupacional”, diz Graça. De acordo com ela, em torno de 30% de todas as lesões dermatológicas são por trauma ou por breve exposição a agentes tóxicos ocasionando lacerações, abrasões e queimaduras e muitos desses casos não resultam em consulta médica.
Entre os agentes causadores das dermatoses, ela citou, entre outros, a umidade – atingindo profissionais de limpeza; a eletricidade – o que provoca queimaduras; a radiação; agentes biológicos como bactérias, fungos e insetos; e agentes químicos como produtos de limpeza, cromo, borracha, resinas e níquel.
As doenças de pele são causadas muitas vezes também pelos equipamentos de proteção individual dos funcionários como uniformes, luvas e botas. Para a médica, é preciso investir em equipamentos seguros e confortáveis e avaliar o tempo de uso. “Não é cabível que um funcionário de limpeza passe o dia inteiro com bota e luvas de borracha. É possível a utilização apenas nos momentos realmente necessários”, disse.
Para a médica, a legislação brasileira referente às doenças ocupacionais é boa, mas existe desconhecimento por parte dos médicos, pacientes e peritos do INSS. “Isso acaba prejudicando um trabalho, que deveria ser feito em conjunto, mas não é”, explicou.
Sobre isso, Geraldo Castelar Pinheiro, chefe do Serviço de Reumatologia do Hupe, lembrou que todo o processo para o diagnóstico das doenças ocupacionais é muito simples, mas diversos interesses trabalhistas atrapalham. “Tudo pode ser resolvido com uma conversa entre médico e paciente para se entender o caso. Mas, muitas vezes, o objetivo da paciente é apenas sair dali com um documento que ateste sua doença. Os médicos se sentem traídos e usados”, opinou.
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