• Edição 257
  • 28 de abril de 2011

Notícias da Semana

O prisma ético e suas refrações

Renata Lima

A primeira aula de “Bioética, Biossegurança e boas práticas com animais em experimentação”, na última segunda-feira (25/4), promovida pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), trouxe uma discussão básica para a disciplina: a conduta do cientista diante de animais no laboratório.

“A lei em relação à experimentação com animais existe e importa, mas o relevante é cada um de nós ter a própria visão e ética perante a vida”, constata o primeiro conferencista das aulas, Wothan Tavares, Professor do Departamento de Farmacologia da Universidade de São Paulo (USP).

O uso de animais na experimentação disparou no século XX, com a crença cristalizada e arraigada de que a ciência não dispunha de freios. “Antes de entrar no laboratório, somos, acima de tudo, pessoas. Não se separa o cientista do ser humano”, diz Wothan em relação a esse pensamento soberano da ciência. 

Hoje, os conceitos de biossegurança e bioética são dignos de reflexão. Para o professor, às vezes pensamos que o uso de animais na pesquisa é tão intrínseco na atividade científica que não paramos para nos questionar essa prática e sua validade.

Ele ainda destaca que é importante não ter dúvidas na hora da experimentação. “Usar uma dose alta de anestesia e colocar a vida do animal em risco, ou não usar e submetê-lo ao sofrimento?”, exemplifica Whotan, quanto à relevância dos critérios que cada cientista usa na hora da prática.

A resposta para essas perguntas não é um consenso, nem tão pouco tão dual que possa separar nitidamente o bem do mal. Vale destacar que o uso de animais em pesquisas tem seus méritos: ele proporciona o aumento da qualidade de vida de animais não só humanos. “A revista Science, por exemplo, publicou em 2010 que ratos em laboratório já respiravam através de um pulmão artificial produzido em laboratório”. Ele continua “temos ainda uma publicação da revista The Cell, que mostra o desenvolvimento de pílulas capazes de reverter o Alzheimer, testado primeiramente em animais”.

Por outro lado, não se deve esquecer que a interseção das vidas não nos é indiferente. O animal não é um tubo de ensaio com patas, ele tem vida e isso deve ser levado em conta. A Biologia da Cognição surge para comprovar que os bichos compartilham do mundo com a gente e têm consciência do seu redor.


As discussões acerca da ética variam de cada ser e do contexto social e intelectual em que vive. O pensamento da sociedade está sempre em direção a um prisma que refrata as diferentes percepções do mundo e constrói uma multiplicidade de critérios para balancear os erros e acertos das ações científicas.


Biossegurança: Como é, e como deve ser

André Ribeiro

Na última quarta-feira, dia 27/04, ocorreu a terceira aula da disciplina de Bioética, Biossegurança e boas práticas com animais em experimentação, ministrada no Auditório professor Paulo Rodolpho Rocco. A palestra foi ministrada pela professora Sônia Soares Costa, presidente da Comissão de Biossegurança do Centro de Ciências da Saúde (CCS/UFRJ), que abordou os riscos dos materiais químicos a serem descartados, assim como os métodos para descarte e também a situação da biossegurança no CCS.

A palestrante começou falando sobre os fundamentos da química, os elementos, suas propriedades e funções. A seguir, sobre os produtos químicos de risco. “Esses produtos têm que ser descartados com muita segurança”, afirmou.

Sobre a manipulação dos produtos químicos em laboratório, Sônia declara que isso exige muita atenção e cuidado. A professora levantoua questão do uso do jaleco, que funciona como proteção essencial para quem lida com produtos químicos de risco, mas também representa um risco quando utilizado em lugares impróprios, pelo risco de contaminar ambientes de uso público.

Um ponto arduamente defendido pela professora Sônia foi a conscientização das pessoas responsáveis sobre o descarte. “O descarte dos materiais químicos afeta a todos nós do CCS, é algo que deve ser feito para o bem de toda essa comunidade”, defendeu ela.

Sônia reconhece que as instituições de saúde do país têm muito a melhorar, e que se o Brasil quiser aperfeiçoar seu sistema de saúde deve começar por aí. “Temos que tratar o descarte destes materiais de forma séria, não é como jogar o lixo fora que a gente mistura tudo e joga no mesmo lugar”, apontou a professora.


Na parte final da palestra, Sônia Costa se dedicou a explicar o funcionamento da Comissão de Biossegurança da qual ela é presidente. Ela apresentou dados mostrando que, nos últimos quatro anos, houve uma melhora significativa na área, e que o número de acidentes diminuiu bastante. A palestrante ainda explicou que o método de trabalho da comissão é bastante completo. “Nós lidamos com a conscientização do profissional, não somente como profissional, mas também como pessoa, afinal ela está fazendo algo que vai prezar pela saúde não só dele, mas de todos”, finalizou Sônia.