É sempre recomendado que as pessoas se alimentem de uma dieta balanceada e completa, incluindo diversos alimentos de origem animal, como carnes, leite e ovos. Seria possível, então, que o consumo desses alimentos estivesse prejudicando nosso planeta?
Segundo um relatório divulgado pela ONU, os produtos de origem animal são os maiores vilões do meio ambiente. A pecuária é responsável pelo consumo de 70% de água fresca do planeta e de 38% de uso da terra, além de ser o emissor de 19% dos gases estufa, de acordo com o relatório. Dessa forma, a ONU recomenda que a humanidade deve adotar uma dieta vegana (sem consumo de alimentos de origem animal), para garantir a preservação do planeta.
Andrea Abdala
Professora do Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC)
“O maior problema com esse tipo de alimentação é a desinformação. Muitos querem ser vegetarianos, porém poucos o fazem de forma correta, com disciplina e atenção à importância da alimentação para a saúde do homem.
Os maiores prejuízos para os que evitam produtos de origem animal são deficiência nutricional de vitamina B12, deficiência alimentar de vitaminas lipossolúveis e inadequação dietética de cálcio, além do risco de se adquirir a anemia ferropriva (causada pela deficiência de ferro no organismo).
Para um indivíduo adotar essa dieta, ele deve ter profissionais para orientá-lo permanentemente. Ele deve ter compromisso com o nutricionista, além de profissionais da bioquímica, para cuidar de seu estado corporal. Os veganos devem não só ter cuidado com sua dieta, mas, sim, responsabilidade com ela.
Quando consumida com pouca ou nenhuma gordura, mesmo preparada da forma grelhada, assada e cozida, as carnes nos fornecem ferro e vitamina B12. Já o leite e seus derivados são importantes por serem ricos em cálcio.
Os nutricionistas não recomendam para os indivíduos adotar uma dieta vegana. A ciência da nutrição prega o consumo de alimentos de origens variadas, pois todos carregam uma gama de nutrientes necessários para várias fases da vida. A defesa ao meio ambiente não pode pregar pela exclusão dos alimentos de origem animal. Devem ser procuradas outras soluções, como responsabilidade com a poluição e tratamento da água”.
Fernando Fernandez
Professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia da UFRJ
“Entre os danos ao meio ambiente causados pelo consumo de produtos animais, dois impactos devem ser destacados. O primeiro deles é o desmatamento. A criação extensiva de gado é um dos maiores causadores do desmatamento no nosso planeta, sendo que na Amazônia, por exemplo, áreas imensas são desmatadas para a criação de populações muito pequenas de gados. Assim, a pecuária se torna, sim, um grande dispersador do desmatamento, além, é claro, de outros efeitos prejudiciais, como a poluição dos rios.
Um segundo prejuízo ambiental é a emissão de gás metano na atmosfera. Os bois, durante a regurgitação, liberam uma quantidade enorme de gás metano, que é mais afetivo ao efeito estufa que o CO2. O efeito do metano só não é maior nas mudanças climáticas do planeta, porque ele está em menor quantidade na atmosfera, mas uma molécula de metano causa mais prejuízos que uma de CO2.
A diminuição no consumo de alimentos animais realmente seria útil, mas vários fatores devem ser levados em consideração. Um deles é que o ser humano é um animal com tubo digestivo e dentes próprios para uma alimentação onívora, não adequada para digerir somente produtos vegetais. Poderia ser feita, então, uma diminuição no consumo de proteínas, mas sem exagero, visto que esse é um composto de extrema importância, inclusive para o desenvolvimento das crianças.
Esse, na realidade, é um problema difícil de lidar. Em países muito populosos, como a China, por exemplo, o consumo de produtos animais per capita aumenta muito a cada ano. Nessas regiões, então, a pressão sobre as matas é muito grande e difícil de ser combatido”.