Um estudo realizado pelo pesquisador Bruno Paredes e orientado pelos professores Regina Coeli dos Santos Goldenberg e Antônio Carlos Carvalho, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ, tem se mostrado útil na pesquisa de novos tratamentos para doenças hepáticas.
A pesquisa foi divulgada na defesa da tese de doutorado de Bruno Paredes, “Contribuição das células da medula óssea na lesão apática aguda”, defendida em fevereiro deste ano. O objetivo do estudo foi analisar o papel das células derivadas da medula óssea diante da lesão hepática, tema controverso para os pesquisadores da área.
“Em nossos estudos anteriormente publicados, observamos que a infusão tanto de células da fração mononuclear quanto células mesenquimais derivadas da medula óssea não apresentaram benefícios em modelos de lesão hepática crônica, como fibrose, esteatose e cirrose hepática. Atualmente, estamos investindo no estudo do potencial dessas células em modelos de fase aguda da doença, como hepatectomia, irradiação e intoxicação por tetracloreto de carbono”, afirma Regina Goldenberg.
“A iniciativa do estudo surgiu, portanto, do interesse em compreender a relação entre a medula óssea e o fígado em condições fisiológicas normais e frente à lesão hepática”, complementa Bruno Paredes.
A ideia era descobrir, através desta relação, se as células derivadas da medula óssea poderiam desempenhar um papel regenerador no tecido do fígado e na própria fibrogênese, um fenômeno no qual o tecido responde à lesão formando cicatrizes, que são prejudiciais ao órgão.
Os testes foram realizados em camundongos fêmeas, que sofreram transplantes para que sua medula óssea se tornasse verde fluorescente, de modo que toda e qualquer célula que fosse mobilizada para a circulação e chegasse ao tecido hepático, pudesse ser detectada por técnicas de detecção de fluorescência.
“A grande dificuldade envolve o estabelecimento dos modelos. Uma vez estabelecido, o restante é mais fácil. Para estudar a participação das células de medula óssea nesses modelos, estabelecemos um método de rastreamento dessas células no fígado”, afirma a professora Regina Goldenberg.
“Desenvolvemos uma maneira de rastreamento que consistiu no transplante de células de medula óssea de um animal transgênico, que produz a proteína verde fluorescente, em animais normais, que foram previamente irradiados para que sua medula óssea fosse extinta. Com isso, teríamos um animal em que apenas as células da medula óssea são verde fluorescente, enquanto o restante do organismo é normal”, explica Bruno.
A importância da pesquisa realizada é, basicamente, contribuir para novas descobertas com relação à regeneração do tecido do fígado e na redução da fibrogênese, ou seja, da formação de cicatrizes no fígado que, se forem crônicas ou de longa duração, podem causar uma cirrose.
Descobriu-se, por exemplo, que enquanto há lesão hepática, as células da medula óssea não contribuem para a formação da fibrogênese, uma informação importante para a aplicação terapêutica destas células. Por outro lado, descobriu-se também que as células da medula óssea estão indiretamente ligadas ao processo inflamatório que induz à fibrogênese, o que facilitaria a descoberta de modos de redução da lesão hepática e da produção de fibrose.
“Nosso estudo não pode contribuir diretamente na descoberta de novos tratamentos, mas pode direcionar o foco dos estudos para outras frentes, já que nem tudo foi investigado. Ainda há, por exemplo, a necessidade de investigar outros tipos celulares derivados da medula óssea que, por terem características de células-tronco, poderiam contribuir para a regeneração hepática”, afirma Bruno Paredes.
“As doenças hepáticas são cada vez mais freqüentes na população e a terapia celular pode contribuir para o tratamento. É importante ressaltar que muitas pesquisas em modelos animais devem ser feitas para se alcançar esse objetivo”, conclui a Regina Goldenberg.