Uma nova possibilidade se abre no campo das pesquisas com células-tronco através da utilização do sangue menstrual. Segundo Regina Coeli dos Santos Goldenberg, professora e pesquisadora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ e chefe do Laboratório de Cardiologia Celular e Molecular, a pesquisa com células do tecido endometrial vem sendo realizada há cerca de 30 anos, no entanto, somente em 2007, foram publicados os primeiros trabalhos utilizando as células-tronco derivadas do sangue menstrual.
“O sangue menstrual apresenta uma série de vantagens que inclui a obtenção fácil e indolor, além de consistir uma fonte muito rica de células-tronco mesenquimais e ser um material produzido todo mês e que seria descartado”, afirma a pesquisadora.
O sangue menstrual é composto pela descamação do endométrio – parede que reveste o útero para receber o óvulo – e por sangue proveniente do rompimento de alguns vasos sanguíneos decorrente desse processo. “Quando o endométrio se descama, traz consigo células-tronco mesenquimais semelhantes às encontradas na medula óssea”, explica a pesquisadora.
Apesar de serem de grande utilidade, as células-tronco mesenquimais possuem uma capacidade mais reduzida na diferenciação de novas células, quando comparadas às células-tronco embrionárias. “Em virtude disso, nosso grupo está investindo em reprogramar as células-tronco mesenquimais do sangue menstrual de modo a gerar células-tronco pluripotentes induzidas, ou seja, fazer com que as células retornem ao estágio embrionário. O pós-doutorando Deivid Carvalho Rodrigues é o responsável pelo sucesso dessa linha”, afirma Regina Goldenberg.
Com tudo isso, as células-tronco encontradas no sangue menstrual já têm se mostrado tão eficazes na reconstituição de alguns tipos de órgãos quanto às provenientes da medula óssea. “Através de modelos experimentais realizados com animais, as células-tronco mesenquimais derivadas do sangue menstrual se mostraram eficazes no tratamento de doenças como infarto, distrofia muscular, isquemia de patas e Acidente Vascular Encefálico”, relata a professora.
Além disso, as células-tronco derivadas do sangue menstrual são capazes, ainda, de acordo com a pesquisadora, de formarem uma camada alimentadora que substitui os fibroblastos dos camundongos, fornecendo sustentação e apoio no cultivo a outras células-tronco embrionárias, como mostram os resultados obtidos pela aluna Danúbia Silva dos Santos.
Na UFRJ, já há pesquisas sobre células-tronco derivadas do sangue menstrual envolvendo mulheres. “A coleta é simples, semelhante a um exame de urina. No dia de maior fluxo menstrual, as voluntárias coletam a amostra de sangue utilizando um potinho com antibióticos e anticoagulantes”, explica Regina Goldenberg. Não há especificações com relação ao perfil das voluntárias, basta que as mulheres estejam em idade fértil, mantenham uma boa higiene íntima e não possuam nenhuma doença. “O isolamento, caracterização e expansão das células é de responsabilidade da aluna de mestrado Karina Dutra Asensi”, conclui a professora.