Anna Letícia Velasco
No mês de março, o Olhar Vital continua a série de matérias dedicada às mulheres. Nesta edição, o tema é o Planejamento Familiar, questão que vem se tornando cada vez mais importante na vida das brasileiras, apesar da limitação de entendimento sobre o que ele realmente significa.
De acordo com o professor José Leonídio Pereira, ginecologista e obstetra, professor da Faculdade de Medicina da UFRJ e coordenador do Projeto Papo-Cabeça (http://papocabeca.me.ufrj.br), muitas vezes ocorre a confusão entre as ideias de Planejamento Familiar e de exercício livre e pleno da sexualidade. “Uma adolescente quer planejar família ou exercer a sexualidade dela?”, indaga. Somando-se a isso, o especialista alerta para outra informação importante e que, muitas vezes, é distorcida. “A ligadura de trompas, a vasectomia e o aborto são métodos de controle de natalidade e não devem ser confundidos indiscriminadamente aos artifícios de planejamento”, ressalta.
Na década de 1960, a Organização Não Governamental Bem Estar Familiar (Bemfam) começou a ser implementado na Maternidade Escola da UFRJ. Hoje, a mesma entidade promove o projeto “Papo-Cabeça”.O programa leva para as escolas a discussão sobre o exercício da sexualidade, utilizando a metodologia didática de Paulo Freire com crianças a partir dos dez anos de idade em sua maioria. Além disso, são realizadas ações especiais com portadores de deficiência mental. “Tem que haver um processo educativo que venha desde a infância, mostrando as vantagens e desvantagens dos métodos contraceptivos”, defende o médico. Neste contexto, as barreiras do sistema educacional não podem ser deixadas de lado. “O problema de que as políticas públicas vão de encontro às políticas de planejamento tem que ser mostrado”, afirma Pereira.
Segundo o professor, outro problema que impede a mulher jovem de evitar a gravidez indesejada é o álcool, muito presente nos ambientes que os adolescentes frequentam. Bailes e festas com entrada e bebida franca para o público feminino também são apontados como complicadores da questão. “É uma violência presumida contra a mulher”, opina Pereira. “Tem que se planejar a própria mulher para exercer a sexualidade e trabalhar o homem para respeitar os limites da relação”, diz.
O ginecologista reafirmando que as políticas educacionais têm que buscar ser mais condizentes com as demandas da saúde e da estrutura brasileiras. Segundo o especialista, para isso, elas devem dar mais atenção à formação dos professores no que diz respeito ao sexo e à proteção, para que as crianças e os adolescentes confiem e disponham da ajuda que a escola pode lhes proporcionar. “A menina, que um dia será mulher, precisa de um elemento norteador para ser livre sexualmente com responsabilidade e as instituições de ensino têm o dever de assegurarem, com ações coerentes, esse direito”, conclui.