• Edição 221
  • 24 de junho de 2010

Argumento

IBqM na era da biotecnologia empresarial


Cília Monteiro

Para atuar na transposição entre as escalas de pesquisa e industrial e trazer inovações com o uso de biotecnologia, laboratórios do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) se uniram à empresa Hygeia Biotecnologia Aplicada. Um deles é o Laboratório de Hemóstase e Venenos, coordenado pela professora Russolina Zingali. A colaboração é feita através do projeto “Inovação no desenvolvimento de antitrombóticos derivados de venenos de serpentes brasileiras”, financiado recentemente pelo Programa de Subvenção Econômica da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). “Realizo esse estudo há muitos anos e, com a parceria, será possível dar um passo à frente e fazer testes clínicos. Assim, poderemos desenvolver novas técnicas para a obtenção de proteínas, úteis à produção de fármacos”, relata a professora.

Segundo ela, o veneno de serpente possui moléculas que interferem no sistema hemostático (que evita a hemorragia). Uma delas é a botrojaracina, um inibidor de trombina, proteína que exerce papel fundamental no processo de coagulação. “Nosso objetivo é minimizar o tamanho dessa molécula, pois ela é grande e apresenta problemas para se transformar em medicamento. Estamos estudando metodologias para diminuí-la e, dessa forma, torná-la mais viável e competitiva ao mercado”, aponta. Enquanto houver a parceria, Russolina pretende atuar na área de pesquisa básica, e, em paralelo, pensar no desenvolvimento de um produto de inovação patenteável.
Fundada em 2007 por um grupo de pesquisadores (alguns do próprio IBqM) e profissionais de mercado, a Hygeia é abrigada pela Incubadora da Fundação Bio-Rio da UFRJ. A ideia que originou a empresa surgiu nos corredores do Programa de Biologia Molecular e Biotecnologia do IBqM. A Hygeia é voltada à produção de insumos de natureza biotecnológica, à realização de testes pré-clínicos e ao desenvolvimento de produtos relativos ao uso de células-tronco. Possui projetos viabilizados por meio de associações específicas com laboratórios da UFRJ, em que alunos também podem estar envolvidos.

“Atualmente, temos quatro projetos em andamento, totalizando cerca de sete milhões de reais investidos”, observa Aurélio Vicente Graça de Souza, um dos fundadores da Hygeia e pesquisador do IBqM. São realizadas captações específicas para os projetos, para que haja um desenvolvimento compartilhado de patentes e produtos, com foco na inovação tecnológica.

A empresa está em fase de projeto executivo das instalações físicas, que ficarão em dois lotes industriais da Fundação Bio-Rio. No entanto, a Hygeia já possuía uma estrutura administrativa-operacional funcionando fora da Incubadora. “Temos uma sala comercial, no centro da cidade. Portanto, não somos uma empresa incubada stricto sensu”, explica Aurélio.
Russolina acredita que tanto a empresa como a universidade estão aprendendo a lidar com a parceria. “A Hygeia representa um modelo mais americano: não faz o fármaco, nem investe na confecção do medicamento que o grupo de pesquisa vier a desenvolver, ela investe na transferência de tecnologia. Esse é um padrão que já existe há algum tempo, mas para nossa cultura é algo diferente”, observa. Para a professora, a interação com empresas biotecnológicas é um passo extremamente importante ao IBqM, devido ao interesse na formação de profissionais na área de biotecnologia.

Em pouco tempo de existência, a Hygeia já foi selecionada para a BIO09 (em 2009), o maior evento mundial de empresas de biotecnologia. “Na ocasião, nossos projetos foram expostos em Atlanta”, relata Aurélio Graça de Souza. Este ano participaremos novamente, na BIO10, em Boston. Apenas 20 empresas em todo o Brasil passaram por essa seleção.

Fonte: Site do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ.