Luana Severiano
A relação educação e saúde pode ser mais complexa que alguns pensam. Ensinar a lavar os alimentos, a importância da reciclagem e cobrar dos alunos o nome da doença e de seus transmissores é apenas uma parte. Por isso, para discutir e informar sobre a importância de promover práticas saudáveis no ambiente escolar, nos dias 23 e 24 de março, acontece o primeiro Seminário de Educação e Saúde nas Escolas, no Centro de Ciências de Saúde da UFRJ, no auditório Rodolpho Paulo Rocco, o Quinhentão.
Baseado no tripé que sustenta e caracteriza uma universidade (ensino, pesquisa e extensão), o evento foi organizado pelo Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (Nutes), a partir de uma parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro. “O objetivo é tentar difundir informações para a sociedade acerca da junção de conhecimentos das áreas de educação e saúde e, assim, tentar compreender e melhorar a visão sobre o que é saúde escolar”, explica Alexandre Brasil, coordenador do Nutes e do evento.
A idéia surgiu de estudantes de mestrado e doutorado do Núcleo, que, em sua maioria, atuam como professores da rede de ensino público. Após reunirem-se em um grupo de pesquisa dentro da universidade, e de realizar sessões externas com integrantes da gestão de saúde pública, ficou visível a necessidade de um seminário que esclarecesse a amplitude desse tema. Segundo Alexandre Brasil, as pessoas têm uma visão muito fechada sobre o tema. “De uma forma geral, tanto os profissionais da educação, quanto os da saúde não sabem ao certo suas atribuições quando o assunto é esse”.
O evento, segundo Alexandre Brasil, foi montado a partir de um processo colaborativo, ouvindo dos professores e da Prefeitura quais seriam os temas e assuntos mais importantes a serem abordados no seminário. De acordo com ele, o adicional desse seminário é que a base da discussão será a educação. “O grande diferencial desse evento é que nós começamos a pensar o tema a partir da perspectiva da educação e não da saúde pública e sua gestão. Isso ajuda na percepção das possibilidades de se trabalhar com saúde escolar”, afirma.
Dessa forma, a partir de uma perspectiva focada na educação - crítica e dialógica - o seminário foi organizado de forma que não termine em si, afirma Alexandre. Todo ele foi programado e organizado para que haja discussão e produção de conhecimento nessa área. “Fugiríamos do conceito do evento se fizéssemos um seminário só de palestras, ou só de oficinas. O intuito é que haja transmissão de conhecimento e interação entre as mais diversas opiniões sobre o assunto”, afirma.
O evento
O primeiro dia será de mesas redondas. Compostas por três ou quatro pessoas de fora da universidade. Essa parte do evento tem como objetivo a exposição de opiniões e experiências de especialistas e, a partir da possível divergência entre elas, gerar pensamentos novos.
No segundo dia, serão organizadas 20 oficinas e rodas de conversa que dividiram o público em grupos de 10 a 15 pessoas para incentivar mais ainda as trocas. Abordagens como Alimentação, Educação Ambiental, Hortas Escolares, Saúde do Professor, Neurociência e Multiculturalismo são alguns dos destaques.
Pesquisadores de instituições do Rio e de outros Estados participarão do seminário. Nomes como Carlos Rodrigues Brandão e Maria Helena Bagnato (Unicamp/SP); Graciliano da Silva Dias (DEPLAE/UFPR); Virginia Schall (Fiocruz-MG) e Adriana Mohr (UFSC) estão entre os convidados.
A abertura será feita pelo reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira, e o diretor do Nutes, Alexandre Brasil Fonseca, que recebem representantes da Secretaria Municipal de Educação (SME) e de Promoção, Atenção e Vigilância em Saúde (SMCDC). O evento tem entrada franca e é destinado a professores, profissionais de saúde, da assistência, gestores, estudantes e pesquisadores interessados nesta temática. As inscrições vão até o dia 18 de março pelo e-mail seminario.nutes@gmail.com. A programação e outras informações, no site do evento, www.nutes.ufrj.br/saudenasescolas.
Opinião pessoal
Para Alexandre Brasil a grande questão que envolve a saúde escolar é que, além dos profissionais não saberem ao certo qual a melhor forma de aplicar seus conhecimentos em prol da dupla educação e sáude, a verdade é que não se tem uma noção da amplitude da escola e da realidade dos estudantes. “Uma merendeira, por exemplo, pode ser um grande agente no processo de produção do conhecimento. Os alunos aprendem mais na prática que com conteúdos normativos”, opina o coordenador do evento.