A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou no dia 11 de novembro que a utilização de câmaras de bronzeamento artificial para fins estéticos está proibida no país. Um estudo realizado pela Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (Iarc), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), motivou a decisão. O levantamento concluiu que utilizar os equipamentos antes dos 30 anos eleva o risco de câncer em até 75%.
Apesar dos riscos oferecidos pela exposição em câmaras de bronzeamento, quem já realizou o procedimento não precisa entrar em pânico, mas deve redobrar a atenção com a pele. “A Anvisa está atendendo a uma demanda da Sociedade Brasileira de Dermatologia, em particular do Departamento de Oncologia Cutânea, dirigido por Nilton Nasser, ex-aluno de doutorado em Dermatologia da UFRJ”, aponta Absalom L. Filgueira, professor de Dermatologia da Faculdade de Medicina (FM) da UFRJ.
É necessário observar se pintas ao longo do corpo crescem, mudam de cor ou sangram. “Quem tinha o hábito do bronzeamento artificial deve se autoexaminar, procurando por modificações na pele. O ideal é que se consulte um especialista para o esclarecimento de dúvidas”, aconselha Absalom, que também é responsável pelo Setor de Fotodermatologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da UFRJ.
O risco da radiação ultravioleta
O perigo oferecido pelas câmaras se deve à radiação ultravioleta emitida durante o processo de bronzeamento. No entanto, ficam de fora da proibição outros equipamentos com o mesmo tipo de radiação, mas destinados a tratamentos médicos. De acordo com Absalom, a utilização de radiação em humanos só deve ser realizada se o profissional responsável estiver habilitado ao procedimento e os equipamentos utilizados forem adequados. “Isso requer a quantificação da intensidade de radiação que o indivíduo recebeu a cada exposição. Como a radiação tem efeito acumulativo, é necessário conhecer o somatório de Joules/cm² recebidos ao final de certo número de exposições”, observa.
Alguns efeitos determinados pela exposição ao ultravioleta podem ser imediatos, como vermelhidão (que pode chegar à queimadura). Já os efeitos considerados tardios consistem em sinais de fotoenvelhecimento (manchas, rugas finas e vasos finos), lesões pré-cancerosas (ceratoses actínicas) e carcinoma epidermoide (tipo de câncer de pele).
Bronzeado saudável
Os perigos do bronzeamento artificial já eram difundidos antes da proibição das câmaras. Mesmo assim, muitas pessoas insistiam em se submeter ao procedimento em busca de uma pele morena. Para o dermatologista, o caminho para um bronzeado saudável consiste em aproveitar a exposição solar pela manhã, até as 9 horas, ou à tarde, depois das 15 horas. “Fora desse horário, é desaconselhável o sol para determinados tipos de pele, mesmo com o uso de fotoprotetores”, indica.
No entanto, Absalom destacou a necessidade do sol para uma vida saudável, nos períodos adequados. Segundo ele, 90% de toda a vitamina D do corpo são produzidos por fotossíntese na pele exposta aos raios solares. “Apenas 10% desse tipo de vitamina provêm da alimentação. A vitamina D não é apenas essencial para a absorção de cálcio, mas também é muito importante para a resposta imunológica e prevenção de cânceres de mama, cólon, próstata, entre outros”, ressalta.
“Estudos recentes mostram que 75% dos cânceres de mama se estabelecem em mulheres com deficiência de vitamina D, de acordo com trabalho da doutora Pamela Goodwin, do Mount Sinai Hospital de Toronto, publicado no Journal of Clinical Oncology, de novembro”, informa Absalom Filgueira. Apesar da importância da exposição solar, é preciso se lembrar do uso de fotoprotetores, mesmo nos horários em que o sol é aconselhável.