Maggie Koerth-Baker, Da National Geographic Society, para The New York Times
Sob a perspectiva do prato, os alimentos que consumiremos no futuro provavelmente terão aparência e gosto semelhantes aos alimentos que comemos hoje. Mas olhe mais de perto e o jantar de amanhã se tornará de fato muito diferente. Cientistas agrícolas que definem o futuro dos alimentos dizem que, à medida que o aquecimento global altera padrões de temperatura, chuvas e concentrações de dióxido de carbono no ar, as fazendas devem evoluir. O aquecimento global vai afetar a agricultura de várias maneiras: algumas regiões e fazendas vão ser beneficiadas; outras vão sofrer. Para lidar com as mudanças nas condições de cultivo, agricultores vão precisar reverter décadas de homogeneização de safras e diversificar as linhagens de plantas, dizem os cientistas agrícolas.
Stephen Jones, geneticista de plantas e cultivador de trigo da Universidade Estadual de Washington, em Pullman, observa que desde meados do século 20, a agricultura tem passado por uma homogeneização radical. "Não se trata apenas da monocultura de fazendas, em que uma fazenda cultiva apenas um tipo de planta, mas também da monocultura dessas plantas e dos campos", ele explica.
Jones observa, por exemplo, que apenas três variedades de trigo compõem entre 60% e 70% de todo o trigo cultivado no noroeste do Pacífico, uma situação que, segundo ele, é similar à de outras plantas de diferentes regiões. Embora a homegeneização tenha facilitado o cultivo de grandes quantidades de alimento em porções de terra ainda maiores, a adaptação às mudanças geradas pelo aquecimento global se torna mais difícil, particularmente se tais mudanças variam para cada fazenda e planta.
"É preciso haver alguma variação disponível com que o ambiente possa trabalhar. Caso contrário, teremos um grande problema", ele afirma. Jones e outros pesquisadores dizem que o aquecimento global suprime a produtividade das plantações, aumentando o custo dos alimentos em países ocidentais e agravando a falta de alimentos em muitas regiões em desenvolvimento.
Seleção Natural
Cientistas agrícolas dizem que existem várias soluções possíveis para evitar a baixa produtividade e o fracasso das plantações. Lewis Ziska, fisiologista de plantas do Departamento de Agricultura dos EUA, com sede em Beltsville, Maryland, está nos primeiros estágios da criação de variedades de plantas mais resistentes por meio de seu cultivo com certas ervas daninhas.
"Muitas ervas daninhas parecem se sair melhor, no geral, quando submetidas a uma ampla gama de ambientes", ele disse. "É possível obter esses genes e explorar essas habilidades através do cruzamento de ervas daninhas com linhagens de cultivo? Com certeza."
Ziska observa, por exemplo, que o arroz domesticado não é capaz de produzir sementes se a temperatura se elevar para mais de 32 °C quando a planta estiver sendo fecundada. No entanto, algumas ervas daninhas relacionadas ao arroz evitam o problema por meio da fecundação no início da manhã ou à noite, quando as temperaturas costumam ser mais amenas. Essa característica poderia ser transmitida ao arroz domesticado, Ziska afirma.
Os cientistas também estão procurando cultivar plantas modernas com linhagens de plantas ancestrais. As previsões sobre o aquecimento global apontam para o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera. Ziska descobriu que sob tais condições, uma linhagem de trigo do início do século 20 na verdade teria um desempenho melhor do que uma linhagem moderna comum.
Jones, da Universidade Estadual de Washington, também está trabalhando nisso. Sua equipe montou plantações de teste de cada linhagem de trigo cultivada no noroeste do Pacífico desde os anos 1850, buscando características que poderiam ser úteis sob as condições do aquecimento global. O geneticista de plantas disse que está especialmente interessado nas características que não foram selecionadas desde que os agricultores modernos passaram a contar pesadamente com herbicidas, pesticidas e fertilizantes, como a capacidade de competir com ervas daninhas ou crescer em solo pobre.
As plantas com tais características poderiam ajudar os agricultores a reduzir a necessidade de insumos químicos e a diminuir suas emissões de carbono.
Modificação Genética
Segundo Jones, em um clima em transformação, os agricultores vão precisar experimentar muitas variedades de plantas para encontrar a mistura que funciona melhor em suas fazendas. "A natureza faz um trabalho de seleção de plantas melhor do que o nosso", Jones explica. Mas outros cientistas de plantas salientam que existem situações nas quais a natureza pode receber uma ajuda.
L. Curtis Hannah, pesquisador de biologia molecular de plantas da Universidade da Flórida, em Gainesville, está usando técnicas modernas de transferência de genes para criar linhagens de milho que poderiam ajudar agricultores de regiões tropicais. O aquecimento global pode gerar elevações de temperatura relativamente rápidas em tais áreas.
Focando nos genes de ocorrência natural no milho que produzem uma enzima chamada AGPase, Hannah foi capaz de produzir um milho modificado em laboratório que cresce com sucesso em altas temperaturas. "Quando a temperatura supera os 32°C durante os primeiros estágios do desenvolvimento das sementes, vemos aumentos na produtividade que chegam a até 68%."
Embora ambientalistas geralmente se oponham à introdução de organismos geneticamente modificados por considerá-los arriscados demais, Hannah e outros cientistas de plantas afirmam que tais técnicas não são inerentemente perigosas e podem ser ferramentas eficazes, usadas em paralelo ao cultivo tradicional, para adaptar as plantas ao aquecimento global. Segundo Ziska, do Departamento de Agricultura dos EUA, "não é simplesmente um cenário do bem contra o mal."
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