A soja é uma leguminosa de alto teor proteico, produzida em larga escala no Brasil, com baixo custo para a população. Além de ser um alimento saudável, é possível que, no futuro, a soja também dê origem a substâncias medicinais de aplicabilidade biotecnológica. É o que conta Eliane Fialho, professora do Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC) da UFRJ. Ela participa de um grande projeto de estudo: “A abordagem consiste no isolamento e caracterização de novas moléculas com atividade antimicrobiana, provenientes de quatro cultivares de soja amarela, doadas pela Embrapa Soja de Londrina, no Paraná”, explica.
“Compostos bioativos de soja: avaliação da composição organomineral, capacidade antioxidante, proteoma e atividade antimicrobiana” é o título do projeto, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), por meio do Edital Grupos Emergentes. Pertencente a esse trabalho, a pesquisa “Avaliação da Atividade Antimicrobiana do Extrato Bruto da Soja Amarela Germinada (Glicyne max)”, orientada por Eliane, foi apresentada na XXXI Jornada de Iniciação Científica (JIC) da UFRJ.
“Uma variedade de fatores pode influenciar a produção de polifenóis e antioxidantes na soja, tais como: tipo de solo, viabilidade de nitrogênio e outros nutrientes, temperatura e ataque por insetos. Em geral, fatores que impõem estresse à planta, ativam mecanismos de defesa, produzindo, consequentemente, antioxidantes”, relata a professora.
Segundo ela, as plantas não apresentam um sistema imune específico, e, ainda assim, conseguem combater com sucesso infecções, por meio de mecanismos de defesa ativos e constitutivos. A defesa contra fungos, bactérias ou vírus pode ser induzida por variadas substâncias, bióticas e abióticas, como as proteínas. Frente a um ataque microbiano, várias das proteínas são induzidas, ou têm suas atividades aparentemente aumentadas, por modulação ou expressão.
A partir do isolamento e caracterização de novas moléculas com atividade antimicrobiana, provenientes da soja, vislumbra-se uma possível e futura aplicação biotecnológica dessas moléculas bioativas como substâncias medicinais.
Projeto
“O projeto constará basicamente de três grandes etapas: a primeira consistiu na análise da composição organomineral e capacidade antioxidante, por métodos químicos, de quatro cultivares de soja amarela. Esta etapa já foi concluída, inclusive fez parte da dissertação de mestrado da aluna Jaqueline Migon, defendida em setembro deste ano”, aponta Fialho.
As outras etapas estão em andamento: a segunda se refere à análise do proteoma diferencial das quatro cultivares e, a terceira, consistirá no isolamento e caracterização de peptídeos com atividade antimicrobiana, presentes constitutivamente nessas leguminosas. “Esta última etapa envolve a atividade biológica de forma a vislumbrar um potencial campo biotecnológico. Parte dela foi apresentada na JIC”, observa a pesquisadora.
O trabalho exibido na JIC, realizado por Bianca Souza da Costa, aluna de iniciação científica, e pela futura mestranda Paula Martins Pedrote, apresentou dados preliminares. “O objetivo foi comparar o perfil proteico da soja cultivar 48 germinada com a não germinada e verificar a ação germicida sobre os microrganismos Aspergillus niger, Aspergillus ochraceus, Aspergillus versicolor e Fusarium solani”, informa a professora.
De acordo com ela, os dados obtidos permitiram concluir que o extrato bruto de soja germinada apresenta um perfil de degradação proteica maior. “Isto já está bem descrito na literatura. Adicionalmente, neste extrato há compostos com potencial fungicida para os microrganismos analisados”, constata.
“Este é um projeto multidisciplinar, pois conta com outras unidades e centros de pesquisa, além do INJC”, indica Eliane. Trata-se do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG), da UFRJ, por meio da participação do laboratório chefiado pela professora Celuta Alviano, e do Instituto de Química (IQ) da UFRJ, através da colaboração das professoras Márcia Soares e Adriana Farah. “Adicionalmente, também temos pesquisadores da Embrapa. E Denise Bouts, aluna de pós-doutorado do IMPPG, também participa ativamente do projeto”, acrescenta.
O grupo agora está focado no isolamento e caracterização de moléculas, proteicas ou não, envolvidas na ação microbicida de diferentes cultivares de soja. “Com relação à aplicabilidade, existe um grande interesse, após identificação e diversos ensaios experimentais, de aplicação biotecnológica. Por exemplo: utilização em plantações de soja com objetivo de aumentar a produção e, quem sabe, a elaboração de medicamentos de uso tópico, caso tenha ação sobre outros microrganismos patogênicos”, conclui Eliane Fialho.