Animais abandonados no campus da UFRJ retratam uma situação que há anos vem trazendo o risco de transmissão de doenças como raiva e leptospirose. A solução, que vai além da simples retirada dos cães e gatos, envolve comprometimento e trabalho voluntário. Interessada em amenizar os efeitos do problema, a Decania do Centro de Tecnologia (CT/UFRJ) pretende desenvolver um projeto baseado no que é realizado hoje por um grupo de professores do Centro de Ciências da Saúde (CCS/UFRJ). O trabalho prevê ações como alimentação, esterilização, vacinação e adoção dos animais.
De acordo com Cristiana Pedrosa, professora do Departamento de Nutrição e uma das responsáveis pelo projeto realizado no CCS, a retirada dos cães e gatos do campus não impede a entrada de outros animais: “No entorno da UFRJ existem favelas e esses animais muitas vezes vêm de lá, onde não têm o que comer. Alguns vêm sozinhos, pela Avenida Brasil, em busca de lixo, e outros são abandonados por quem frequenta o campus nos finais de semana.”
Ao contrário do que ocorre no CCS, cujo trabalho não recebe nenhum tipo de financiamento, a Decania do Centro de Tecnologia se propôs a destinar uma verba para quem quiser atuar como voluntário. As medidas ainda não foram discutidas, mas segundo o professor Walter Suemitsu, decano do CT, a intenção é trazer o modelo do Centro de Ciências da Saúde. “Essa preocupação vem desde muito tempo, mas nunca conseguimos resolver. Entramos em contato com a SUIPA (Sociedade União Internacional Protetora dos Animais), mas eles dizem que não têm mais espaço e o número de reclamações é muito grande. Não podemos simplesmente retirar os cachorros porque isso é contra a lei de proteção aos animais. O problema não é ter o cachorro, mas ter de forma descontrolada. Precisamos conseguir voluntários e em uma primeira fase esterilizar e vacinar, porque isso deixaria os animais menos agressivos.”
Os animais tratados recebem duas vacinas: antirrábica (previne contra a Raiva) e a décupla (previne contra Cinomose, Leptospirose, Hepatite Infecciosa, entre outras doenças). Cristiana Pedrosa já adotou quatro animais entre cães e gatos e arca com os custos de outros que estão alojados no CCS. “Os animais que faltam ser tratados e esterilizados ainda não o foram porque não temos mais dinheiro. Eu compro, com meus próprios recursos, 100 kg de ração de cachorro por mês e mais 50 kg de comida para gato. Fora o que eu gasto na veterinária com esterilização e cuidados para os animais que vêm doentes ou machucados.”
Apesar das dificuldades, de acordo com a professora, mais de 70% dos animais estão esterilizados e a maior parte deles é encaminhada para a adoção. “No entanto, se cada funcionário da UFRJ encaminhasse esse animal para um dono, a gente não teria nenhum, porque temos mais de 5 mil funcionários, contando os professores, e não temos 5 mil animais aqui. É preciso que toda a comunidade se mobilize”, disse.
A divulgação dos animais disponíveis para adoção é feita através de páginas de relacionamento da internet e outros sites, além de anúncios orais. Já a identificação é feita visualmente. Segundo informou a professora, experiências em anos anteriores demonstraram não ser viável a utilização de coleiras ou roupas com os telefones do grupo, pois elas acabavam sendo roubadas.
O comportamento dos animais que costumam viver em comunidades sem se afastarem muito do local facilita, de acordo com Cristiana Pedrosa, a recolher os escolhidos pelos adotantes. Além disso, segundo informou, os próprios animais podem ser usados para impedir a entrada de outros. “Os maiores acabam coibindo as pessoas de abandonarem seus animais, por medo de que sejam espancados”, disse.
Para a professora, existem meios de coibir o abandono dos animais, como a fixação de placas proibitivas e a fiscalização da segurança. Se cada Centro disponibilizar uma verba, tiver um representante da comissão de proteção, se comunicar um com o outro, e criar um site único, a iniciativa pode dar certo. No CCS, mais de 100 animais já foram adotados.
— Este não é um problema apenas do nosso campus, mas do Estado do Rio de Janeiro. Enquanto nós, da comunidade, não nos mobilizarmos para fazer alguma coisa e acharmos que é o governo quem tem que fazer, e ficarmos esperando, nada será resolvido — concluiu Cristiana Pedrosa.