Na última semana, o Ministério da Saúde alterou pela segunda vez o protocolo de tratamento da gripe A H1N1. Em um primeiro momento, qualquer pessoa com sintomas da gripe podia usar o antiviral Tamiflu. Posteriormente, apenas pacientes em estado grave ou de grupos de risco, como grávidas, crianças e idosos, podiam receber o medicamento. Agora, os médicos possuem autonomia para receitar o remédio para qualquer paciente, quando julgarem necessário.
A polêmica em relação ao uso indiscrimado do Tamiflu se deve à possibilidade de o vírus influenza A ficar resistente ao princípio ativo do medicamento, além de causar efeitos colaterais. De acordo com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, o novo protocolo ressalta que a prescrição do antiviral é de responsabilidade dos médicos e autoridades sanitárias locais, e deve ser tratada como exceção.
A distribuição do medicamento, que não é mais vendido em farmácias, continua sendo feita pelo Ministério da Saúde. Ele é repassado para os estados, que possuem autonomia para distribuírem como bem entenderem.
Segundo Paulo Feijó Barroso, professor-adjunto do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da UFRJ, o uso do Tamiflu é recomendado para tratamento de casos de gripe confirmados laboratorialmente. Porém, também deve ser utilizado nas primeiras 48 horas de desenvolvimento dos sintomas em pacientes sem confirmação laboratorial, mas nos quais o médico identifica forte probabilidade da doença. “É importante lembrar que as recomendações de tratamento são baseadas em estudos realizados antes da pandemia por H1N1 em curso”, reitera o especialista.
Paulo Feijó avalia “que o antiviral deve ser indicado prioritariamente para as pessoas que apresentam risco de desenvolver complicações da infecção”. No entanto, há evidências de que indivíduos que não estão incluídos nos grupos de risco também podem ser beneficiados e “a maioria dos especialistas recomenda o uso nas primeiras 48 horas dos sintomas”, afirma o professor.
“O acesso ao medicamento deve ser garantido para todos os indivíduos que apresentem uma prescrição médica. O Tamiflu reduz a frequência de complicações, internações e a duração dos sintomas. A decisão de uso do antiviral sem avaliação médica que é inaceitável”, constata Paulo.
Quanto à possibilidade de o vírus influenza A sofrer alterações que o tornem imune aos efeitos do princípio ativo do Tamiflu, Paulo analisa: “Proponho o uso controlado, sob prescrição médica, do medicamento. A possibilidade de seleção de vírus resistente não deve modificar o adequado tratamento dos indivíduos que podem se beneficiar do mesmo”.
O infectologista salienta que, como todos os medicamentos, o Tamiflu apresenta efeitos colaterais. Entretanto, é uma droga em geral bem tolerada, com efeitos colaterais considerados pouco graves, como náuseas, vômitos e diarreia, principalmente.