• Edição 228
  • 12 de agosto de 2010

Teses

Estudo avalia um novo mecanismo induzido por estresse de alta pressão

Geralda Alves

“O fator transcricional Hsf1 de leveduras coordena a expressão de seus genes-alvo sob condições ótimas de crescimento, adquirindo uma forte capacidade indutora da transcrição após situações estressantes, como choque térmico. Embora Hsf1 tenha sido isolado e caracterizado como fator responsável ao estresse há mais de vinte anos, pouco ainda se sabe a respeito de sua ativação por condições adversas”.

Esta afirmação é da mestranda Caroline Mota Fernandes apontada em sua dissertação, intitulada “Regulação do fator transcricional Hsf1 de Saccharomyces cerevisiae: um novo mecanismo induzido por estresse de alta pressão hidrostática”.

Segundo a estudante, que defende sua tese na próxima segunda-feira (16/08), foram investigados o envolvimento de Hsf1 e os mecanismos envolvidos em sua regulação em células de S. cerevisiae submetidas ao estresse de alta pressão hidrostática.

“Inicialmente, o estado de fosforilação do fator foi analisado em células contendo Hsf1 fusionado por sua região N-terminal ao epítopo myc, permitindo detecção da proteína após incubação com anticorpo específico. Análises por Western Blotting revelaram um padrão de fosforilação de Hsf1 após estresse de pressão distinto do hiper-fosforilado induzido por choque térmico”, analisa a estudante.

Dessa forma, foi investigado se a ativação dos genes dependentes de Hsf1 seria afetada pelo estado não-hiperfosforilado do fator, induzido por pressão. “Após tratamentos de 50 MPa e 100 MPa, observou-se, por RT-PCR, aumento dos níveis de RNAm de HSP104, HSP26, CUP1 e SSA3,  demonstrando que a hiperfosforilação de Hsf1 não é essencial para indução gênica após estresses. Além disso, o padrão de expressão dos genes-alvo após tratamentos de pressão se mostrou dependente do tipo de arquitetura do elemento HSE encontrada no promotor. Logo, foi investigada a ativação das distintas construções de HSE após tratamento de 100 MPa, utilizando uma construção plasmidial contendo os arranjos HSE fusionados ao gene repórter LACZ. Dessa forma, a indução das arquiteturas foi analisada pela indução de LACZ por RT-PCR e pela atividade de b-galactosidase”, explica Caroline.

Em resposta a estresse de pressão hidrostática, Hsf1 ativa mais intensamente a transcrição via promotores descontínuos como HSE-Gap e HSE-Step. “Dessa forma, a indução gênica mediada por Hsf1 após 100 MPa parece se dar de maneira distinta do observado para tratamento térmico a 40°C. O papel de modificações pós-traducionais (hiperfosforilação) e sua implicação na ativação das arquiteturas HSE ainda são alvos de intensa discussão na literatura. Logo, a compreensão da ativação de Hsf1 em modelos pouco descritos, como estresse de pressão, pode revelar novos mecanismos de regulação do fator”, conclui a mestranda.

Defesa:

O estudo “Regulação do fator transcricional Hsf1 de Saccharomyces cerevisiae: um novo mecanismo induzido por estresse de alta pressão hidrostática”, realizado por Caroline Mota Fernandes, teve a orientação da professora Eleonora Kurtenbach, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF/UFRJ).

A defesa acontece dia 16 de agosto, segunda-feira, às 14h no bloco G sala G1-022 do IBCCF, no Centro de Ciências da Saúde (CCS), Cidade Universitária.


 

“O efeito da desnutrição multifatorial sobre a geração de lipídios bioativos no tecido renal”

Geralda Alves

Este é o título da tese de mestrado orientada pelo professor Marcelo Einicker Lamas (IBCCF) e defendida pela aluna de biofísica Luzia da Silva Sampaio. A apresentação acontece na próxima quinta-feira (19/08), às 14h, na sala G1-009 do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF/UFRJ), localizado no Centro de Ciências da Saúde (CCS), Cidade Universitária.

Luzia considera que a desnutrição decorre do aporte alimentar insuficiente em energia e nutrientes, sendo causada por diversos fatores. “Constituindo um sério problema de saúde pública, uma vez que quadros de desnutrição crônica, principalmente aqueles iniciados nas fases de vida intrauterina, perinatal e na infância são responsáveis pela geração de doenças crônicas na vida adulta”, relata a mestranda.

No Brasil, a região nordeste é aquela que apresenta os mais elevados graus de desnutrição, e a Dieta Básica Regional (DBR) é uma ferramenta capaz de gerar, em modelo animal, as mesmas alterações fisiológicas, bioquímicas e genéticas desenvolvidas a partir da condição de desnutrição, presente naquela população.

“Diversos trabalhos utilizando o modelo DBR mostraram que ela afeta em diferentes níveis o tecido renal, alterando a hemodinâmica e a própria morfologia glomerular. Induzindo a geração de hipertensão arterial, além de alterações nas atividades e expressão de transportadores renais de Na+(Na+-K+ATPase e Na+ATPase), que em condições normais sofrem modulação através da ação de lipídios bioativos. Dessa maneira, o trabalho busca avaliar a formação de lipídios bioativos no tecido renal de animais com desnutrição multifatorial (DBR)”, informa Luzia.

Segundo ela, foram utilizados ratos Wistar machos, separados em dois grupos experimentais, controle e desnutrido (DBR). “Nossos resultados mostram uma menor formação do fosfatidilinositol-4-fosfato (PtdIns(4)P) nos animais DBR quando comparado ao grupo controle (5,1 ± 0,6 vs. 7,9 ± 0,7 pmol PtdIns(4)P.mg-1.mim-1, P < 0,05), mesmo com a adição de esfingosina, um modulador positivo da fosfatidilinositol-4 cinase (PtdIns-4K) (15 ± 4 vs. 4,5 ± 0,7 pmol PtdIns(4)P.mg1.mim1, controle e DBR respectivamente, P < 0,05), mostrando uma quebra na sinalização cruzada entre a esfingosina cinase e a PtdIns-4K. Em relação à atividade da diacilglicerol cinase e da ceramida cinase, nosso trabalho mostrou aumento na disponibilidade de diacilglicerol e ceramida, no grupo DBR, através do aumento na formação de ácido fosfatídico (PA) (1,9 ± 0,2 vs. 3,6 ± 0,6 pmol PA.mg-1.mim-1, P < 0,05) e ceramida-1-fosfato (C1P) (19,4 ± 0,7 vs. 21,6 ± 0,5 fmol C1P.mg-1.mim-1, P < 0,05)”, observa Luzia.

“Em relação à formação de ácido lisofosfatídico (LPA)” ― continua a mestranda ― “os resultados mostram uma redução na atividade da fosfolipase A2 no modelo DBR (53 ± 4 vs. 31 ± 4 fmol LPA.mg-1.mim-1, P < 0,05). Também foi observada diminuição na quantidade de colesterol membranar no grupo DBR (0,083 ± 0,005 vs. 0,059 ± 0,006 mg colesterol/ mg proteína, P < 0,05) e na expressão da PMCA (1,170 ± 0,003 vs. 0,9 ± 0,1 unidades densitométricas, controle e DBR respectivamente, P < 0,05).”

Os resultados mostram, pela primeira vez, alterações na geração de lipídios bioativos no tecido renal, devido à condição de desnutrição. Indicando que diminuição na expressão da PMCA devido à redução do colesterol de membrana parece ser a responsável pelas alterações nas atividades das proteínas geradores de lipídios bioativos, uma vez que com a redução da PMCA provavelmente exista uma elevação dos níveis de Ca2+ intracelular.