• Edição 252
  • 24 de março de 2011

Por uma boa causa

HPV na gravidez é motivo para alarde?

Luana Severiano e Renata Lima

Entre os vírus sexualmente transmissíveis mais famosos estão o HIV e o HPV, responsáveis, respectivamente, pela AIDS e pelo câncer do colo útero. A preocupação se estende quando a portadora do vírus é uma gestante. No caso do HIV, é comprovado que o bebê pode se infectado pelo vírus, através da corrente sanguínea, mas e no caso do HPV? Quais são riscos à gravidez que esse vírus oferece?

“Se a questão for a contaminação do bebê, durante a gestação, não há grandes problemas”, assegura o professor adjunto do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFRJ e ginecologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), Renato Ferrari. De acordo com ele, a relação do HPV com a gravidez, basicamente, é de impedir o parto normal.

 O professor explica que o vírus do HPV, diferente do HIV, não circula na corrente sanguínea. Ele permanece na mucosa, no epitélio da boca, da vagina ou do colo útero. Dessa forma, enquanto a criança está dentro da barriga da mãe, não há risco nenhum de contaminação. O risco de infecção pode ocorrer apenas na hora do parto, caso o bebê entre em contato com as lesões na vulva da mãe, destaca o Dr. Renato.

O HPV é uma família de vírus que infecta o epitélio do ser humano, esclarece o professor. De forma geral, é transmitido de forma sexual. Contudo, caso o portador do vírus possua alguma lesão e haja contato com outra pessoa pela boca, por exemplo, a contaminação também acontece. Assim, aclara Renato Ferrari, ao passar pela vagina da mãe, a boca do bebê pode entrar contato com as verrugas, lesões características da ação do vírus HPV em nosso corpo, e contaminar-se. Por isso, o parto normal é evitado.

Além disso, a gravidez comporta uma situação de modificação imunológica muito grande, visto que para ter o bebê - um ser que possui metade da genética de outra pessoa, ou seja, um corpo estranho - o corpo da mãe teve que baixar suas defesas, para que não houvesse rejeição e, em consequência, um aborto. Devido a essa alteração, algumas verrugas e lesões podem ficar mais exuberantes e impedir, até mesmo, o corte dessa área para o parto.

Fora isso, o que também difere dos casos de infecção em mulheres não grávidas é o tratamento. E, de antemão, o Dr. Renato Ferrari já afirma: “Depende muito”. Depende do aspecto da lesão: se é clínica (visível) ou subclínica (assintomática), de alto ou baixo risco para câncer, do local e do estágio da gestação.  

“A verruga, se no início da gravidez, pode-se retirar. Quando já no final, não, pois a região da vulva fica muito vascularizada. Pode sangrar”, explica Renato Ferrari. Apesar das variações, de acordo com o Dr. Renato Ferrari, é comum, depois da gravidez, as lesões regredirem, devido à normalização do sistema imunológico. “Às vezes, vale a pena esperar”, ressalta.

No caso de lesões de alto grau, no começo da gravidez, o melhor é fazer a cirurgia para retirar, assegura o prof. Renato Ferrari. Segundo ele, de um modo geral, a biópsia (nome dado a essa cirurgia) não afeta o bebê. Contudo, mais uma vez, ele destaca a relatividade dos casos quando o paciente é uma gestante: “Se a lesão for muito interna, no canal do útero, por exemplo, há o risco de comprometer a gravidez. Há que se conversar com a paciente. A melhor alternativa, às vezes, é esperar”.

Prevenção

“Camisinha sempre!” Além da vacina que previne dos dois vírus mais agressivos e de outros dois mais frequentes da família do HPV, o professor adjunto do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFRJ e ginecologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), Renato Ferrari alerta para o fato de que se deve lembrar sempre da camisinha. O vírus do HPV pode agir de forma assintomática em nosso corpo, portanto, a melhor maneira de se proteger e evitar a contaminação de outras pessoas, por desconhecimento, é usando camisinha e fazendo, periodicamente, exames preventivos, como o Papanicolau.