Famosos e anônimos têm aderido ao que parece ser uma nova moda alimentar, a comida viva ou Life Food como é mundialmente conhecida. Tal prática só permite aos adeptos se alimentar de frutas, verduras, legumes, grãos e brotos, todos crus. Especialistas divergem quanto aos benefícios e perigos da prática.
Suzana Herculano, neurocientista e diretora do Laboratório de Neuroanatomia Comparada da UFRJ, é contrária à Life Food. A médica define a prática como subalimentação: “o rendimento calórico dos alimentos crus é muito baixo e fica muito longe das informações calóricas divulgadas, pois aquele é o rendimento teórico, que presume 100% de aproveitamento calórico, o que só acontece mediante o cozimento. Quem baseia a dieta em duas mil calorias por dia e só come alimentos crus, na verdade está comendo em média mil calorias por dia.” A nutricionista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), Maria Adelaide Moreira dos Santos, acrescenta que além do rendimento calórico, alguns nutrientes essenciais faltarão nessa dieta, pois “nem todos os nutrientes serão fornecidos ao organismo com essa prática. Irão faltar aminoácidos essenciais, vitaminas e minerais que fazem parte de alimentos proteicos, que são as carnes em geral.’’
As especialistas também alertam para o perigo representado pelo corte de carnes e laticínios da dieta diária. Segundo Suzana Herculano, a falta de ingestão desses alimentos causa grande deficiência proteica no organismo. Maria Adelaide Santos acrescenta que essa deficiência pode afetar funções cerebrais. “A descoberta do fogo aumentou a possibilidade da utilização de alimentos protéicos (que se deterioravam com facilidade sem o cozimento), proteínas de alto valor biológico, que compõem a massa cerebral e a bainha de mielina com minerais. Comendo somente alimentos crus perdemos essa vantagem adquirida por nossos ancestrais.”
Os adeptos da Life Food defendem que comem como nossos ancestrais e que esse era o jeito correto de viver, mas tal afirmação é contestada por Suzana Herculano. De acordo com a neurocientista, o que proporcionou a evolução do homem e o fez chegar ao estágio atual foi a invenção do fogo. “Acho irônico falarem dos ancestrais. Se comêssemos como eles, teríamos que voltar a ficar seis horas ininterruptas comendo por dia, assim como faz o orangotango, que tem necessidade calórica muito parecida com a do ser humano”, afirma.
Sobre o uso da Life Food como método para emagracer, a médica alerta “com a dieta extremamente pobre em calorias, o corpo privilegia o cérebro e gasta as reservas de gordura, podendo chegar até mesmo à redução dos músculos para alimentar as atividades cerebrais. Além disso, é um emagrecimento doentio, como o de alguém que está com câncer e por causa dos tratamentos tem enjoo e não consegue comer”.