• Edição 259
  • 12 de maio de 2011

Argumento

Brasil quer restringir procedimentos para coibir os abusos na medicina estética

Renata Lima

O médico que se ocupa das questões do coração, cardiologista. O especialista em sistema endócrino, endocrinologista.  E na área de medicina estética, como se chama o médico atuante? A dúvida é pertinente, pois, simplesmente, não existe graduação médica para esta formação. Então, como confiar em procedimentos como a mesoterapia para tratamentos estéticos?

A Mesoterapia consiste na aplicação de medicamentos na pele ou no subcutâneo. Uma de suas utilizações é no tratamento da celulite, através de fármacos que agem sobre o edema (inchação) e a gordura. Muitas clínicas e profissionais oferecem o serviço garantindo a melhora do aspecto estético. Contudo, o que se tem notado, não só no Brasil, é um elevado número dos casos com complicações graves em pacientes, após o tratamento com a mesoterapia. Alta autoridade de saúde da França chegou a definir o tratamento como arriscado.

No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) não reconhece a especialidade medicina estética, e a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) não aconselha a prática da mesoterapia. Dessa forma, o CFM está elaborando um manual de publicidade médica para coibir os abusos na chamada medicina estética.

“Os tratamentos mais utilizados para eliminar gordura localizada são aqueles que infiltram medicamento na pele para eliminar adipócitos (células que armazenam gordura) existentes num local indesejado, ou no sentido de reduzir o volume dessas células. No entanto, esses tratamentos não são precedidos de estudos comprovando eficácia e segurança“, diz José Egidio, professor titular do Departamento de Clínica Médica e chefe do serviço de Nutrologia.

Dentro da medicina, quando uma droga é lançada, ela precisa, obrigatoriamente, ser testada, antes de ser posta em uso. Mas, segundo o professor, os tratamentos estéticos muitas vezes são realizados fora do campo da Medicina, por profissionais que, às vezes, não possuem capacitação para realizar a tarefa a que se propõe.

O professor José Egídio explica “que essas questões ligadas à imagem trazem uma grande ansiedade; as pessoas se comportam de forma a resolver o problema estético rapidamente. Confundem sonho com realidade. Isso se observa muito na obesidade e na gordura localizada. Os pacientes querem perder peso de maneira fácil e que não traga desconforto a eles. Eu costumo dizer que é como um sonho: você deita à noite, dorme, toma alguma pílula mágica e acorda no outro dia com menos peso. E podemos constatar que existem esses vendedores de sonhos, com promessas de inovação e de acabar com todos os problemas ligeiramente, o que não há".

Esses procedimentos evasivos, se não forem feitos com técnicas e cuidados devidos, podem trazer consequências. A primeira delas é a infecção. Uma simples injeção, utilizada, por exemplo, no tratamento de carboxiterapia, se não houver cuidados com a assepsia e higiene necessários para a aplicação, podem veicular germes e bactérias, culminando em infecções locais ou generalizadas.


“É necessário que tudo isso seja organizado e regulamentado por instituições de saúde, para que esses tratamentos sejam realizados por profissionais legalmente habilitados para a função, evitando que pacientes sejam expostos a riscos e complicações de saúde desnecessários”, conclui José Egídio.