No Brasil, segundo pesquisas, aproximadamente, 35 mil pessoas sofrem de insuficiência renal crônica. Destes, somente três mil conseguem ser transplantados anualmente. Diante desse quadro, é possível imaginar a decepção daqueles que tiveram o órgão transplantado rejeitado, depois de tanta espera, pela ação de um vírus desconhecido, presente em seu organismo.
Com a intenção de evitar esse tipo de situação, a pesquisadora Ana Carolina Zalona, orientada pelo professor Dr. Mariano Zalis, chefe , do Laboratório de Infectologia e Parasitologia Molecular do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, desenvolveu um estudo para procurar entender um pouco mais sobre tal vírus e tornar disponível para os pacientes um diagnóstico que pode ajudar a evitar uma possível perda do enxerto (órgão transplantado).
O vírus BK, responsável por esse tipo de rejeição, segundo Ana Carolina, está presente em aproximadamente 80% da população mundial adulta. Contudo, por se manter latente no organismo da pessoa, após a infecção, que normalmente ocorre durante a infância, poucos o conhecem e o estudam no Brasil.
Possivelmente, explica a pesquisadora, a transmissão do vírus ocorre por via oral, através de água ou alimentos contaminados. As últimas pesquisas tem sido sugerido outra via potencial de infecção: o contágio através de sêmen, sangue e órgãos transplantados.
Os sintomas, na fase de infecção primária (durante a infância), são, na maioria das vezes, imperceptíveis. “Em crianças saudáveis é quase sempre assintomática, mas pode se apresentar como uma infecção respiratória, sendo confundida com um simples resfriado”, afirma Ana Carolina Zalona. Em adultos, o quadro pode permanecer o mesmo ,quando esses não possuem algum tipo de imunodeficiência.
No caso de pacientes transplantados renais, devido à sua condição de imunossupressão, eles têm um alto risco de reativar esta infecção pelo vírus BK e, assim, os sintomas aparecem. “Febre, mal-estar, vômito, disfunção hepática, estenose uretral, nefrite intersticial e levando até a rejeição do transplante”, detalha Ana Carolina.
Para evitar a frustração de uma rejeição do enxerto (órgão transplantado), é necessário que a infecção seja detectada antes da cirurgia. Segundo a pesquisadora, há várias técnicas de diagnóstico que são feitas através de amostras de sangue, urina e tecido, como a citologia urinária, biópsia de tecido e reação de cadeia da polimerase (PCR).
No trabalho desenvolvido pela pesquisadora, no Laboratório de Infectologia e Parasitologia Molecular do HUCFF, orinetado pelo professor Dr. Mariano Zalis, que ganhou o prêmio Adrelírio Rios, sua equipe conseguiu desenvolver um exame que utiliza como técnica a reação de cadeia da polimerase (PCR), com o qual é possível detectar o vírus nas células epiteliais que são eliminadas na urina desses pacientes. “Esta técnica não é invasiva e é mais sensível para a detecção”, afirma.
A pesquisa
Ana Carolina Zalona ganhou o prêmio Adrelírio Rios pela pesquisa “Detecção e análise genotípica do vírus BK em transplantados renais”, orientada pelo professor Dr. Mariano Zalis, chefe do Laboratório de Infectologia e Parasitologia Molecular do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Segundo ela, o objetivo deste trabalho foi identificar e caracterizar o vírus BK entre receptores de transplante renal, correlacionando a presença do vírus com a condição clínica.
Para tanto, foi realizado em um estudo com 105 pacientes, dentre os quais 51 foram detectáveis para o vírus BK pela técnica PCR, e, através da genotipagem, foram identificados os subtipos do vírus. Dessa forma, foi possível perceber uma maior correlação entre um desses subtipos e um pior prognóstico desses pacientes.